Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, servidor do próximo,
honesto e simples, de pensamentos limpos.
Seremos padeiros e teremos padarias.
Muitos filhos à nossa volta.
Cada nascer de um filho
será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,
a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,
teremos uma fazenda e um Horto Florestal.
Plantaremos o mogno, o jacarandá,
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
e mulheres, ligados profundamente
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei...
A pedra do meu túmulo será enfeitada de espigas de trigo e cereais quebrados,
minha oferta póstuma às formigas que têm suas casinhas subterra e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas frondes.
Eu voltarei...
Cora Coralina
(✩ 20/08/1889 — † 10/04/1985)
Autores Clássicos no Luso-Poemas
(pseudônimo de Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas)