Sonetos : 

CEM SONETOS DE AMOR

 

Soneto XXXV

Tu mano fue volando de mis ojos al día.
Entró la luz como un rosal abierto.
Arena y cielo palpitaban como una
culminante colmena cortada en las turquesas.
Tu mano tocó sílabas que tintineaban, copas,
alcuzas con aceites amarillos,
corolas, manantiales y, sobre todo, amor,
amor: tu mano pura preservó las cucharas.
La tarde fue. La noche deslizó sigilosa
sobre el sueño del hombre su cápsula celeste.
Un triste olor salvaje soltó la madreselva.
Y tu mano volvió de su vuelo volando
a cerrar su plumaje que yo creí perdido
sobre mis ojos devorados por la sombra.



Soneto XXXVI

Corazón mío, reina del apio y de la artesa:
pequeña leoparda del hilo y la cebolla:
me gusta ver brillar tu imperio diminuto,
las armas de la cera, del vino, del aceite,
del ajo, de la tierra por tus manos abierta
de la sustancia azul encendida en tus manos,
de la transmigración del sueño a la ensalada,
del reptil enrollado en la manguera.
Tú con tu podadora levantando el perfume,
tú, con la dirección del jabón en la espuma,
tú, subiendo mis locas escalas y escaleras,
tú, manejando el síntoma de mi caligrafía
y encontrando en la arena del cuaderno
las letras extraviadas que buscaban tu boca.



Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas



Soneto - XXXV



TUA MÃO foi voando de meus olhos ao dia.

Entrou a luz como uma roseira aberta.

areia e céu palpitavam como uma

culminante colméia cortada nas turquesas.



Tua mão tocou sílabas que tilintavam, taças,

almotolias com azeites amarelos,

corolas, mananciais e, sobretudo, amor,

amor: tua mão pura preservou as colheres.



A tarde foi. A noite deslizou sigilosa

sobre o sonho do homem sua cápsula celeste.

Um triste olor selvagem soltou a madressilva.



e tua mão voltou de seu vôo voando

a fechar sua plumagem que eu julguei perdida

sobre meus olhos devorados pela sombra.

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Soneto - XXXVI



CORAÇÃO MEU, rainha do aipo e da artesã:

pequena leoparda do fio e a cebola:

agrada-me ver brilhar teu impero diminuto,

as armas da cera, do vinho, do azeite,



do alho, da terra por tuas mãos aberta,

da substância azul acesa em tuas mãos

da transmigração do sonho à salada,

do réptil enrolado na mangueira.



Tu, com tua podadeira levantando o perfume,

tu, com a direção do sabão na espuma,

tu, subindo minhas loucas escalas e escadas,



tu, manejando o sintoma de minha caligrafia

e encontrando na areia do caderno

as letras extraviadas que buscavam tua boca.

 
Autor
Pablo Neruda
 
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