Um dia, na televisão, vi correr uma lágrima na cara de uma preta de peito seco e criança de barriga cheia por falta de recheio (e que cheia estava!).
O locutor franzia o sobrolho, enrugava a testa semicerrando os olhos (como se se condoesse), torcia o nariz e dizia uma data de bacoradas inconsequentes... frases feitas. Faz parte do guião, enfim, a conversa do costume com é de praxe.
Do resto da notícia (qual notícia?), nem falo... bem, até falo. Falo da novidade que é sempre um jantar farto entre eminências balofas (as do costume), para angariar apoios e concertar políticas para o combate à fome (de quem?). E que belo jantar contra a fome (mas de quem???)... teve comida discursos e tudo.
E lá estava outra vez a preta e o pretinho na televisão envolvidos de moscas, essas sim, em farto repasto (seria por solidariedade, também?).
O jantar foi comido e pago por algum benemérito, quem terá sido?
Talvez o gajo que vendeu dez M16, trinta lança-granadas, vinte e quatro lança-rockets e uma centena de minas anti-pessoais, à milícia que não deixa passar o camião do arroz (Que raio! Uma pessoa tem que fazer pela vida para não morrer à fome!).
Noutro dia, noutro mês, quando estiver outra vez na moda, vou ver no noticiário da televisão, outra preta, que já nem chora, com o peito seco sobre o umbigo e uma cria macrocéfala, barriguda e com duas rótulas redondinhas... Ah! Esquecia-me das moscas...
... e depois vem a publicidade.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.