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Chegara o dia do internamento para a cirurgia. Na véspera da cirurgia, tinha uma consulta marcada, para ultimar todas as precauções e indicações a ter em conta. Após a consulta e todos os procedimentos naturais, fui conduzido ao piso 7, onde ficava o quarto que me iria acolher durante os próximos tempos. Tratava-se de um excelente quarto, com umas condições fantásticas. Instalei-me comodamente, despindo a roupa que trazia, vestindo um pijama bem confortável.
Após o almoço, fui autorizado a deslocar-me ao piso da quimioterapia. Rever algumas daquelas pessoas que eram bastante especiais, por todo o carinho e atenção que me tinham prestado era importante para mim naquele momento. Encontrei também o Nelson, um amigo que fizera no último internamento. Estava a efectuar mais um ciclo de quimioterapia, parecia bem disposto. Reparou que o meu cabelo recomeçara a nascer novamente, ficando um pouco radiante com esse pormenor, visto que ele sentia falta do cabelo que perdera. Disse-lhe que brevemente ele recuperaria o seu forte cabelo.
Regressei ao meu quarto, onde apenas comi uma sopa ao jantar, pois tinha que estar em jejum até depois da cirurgia. No final do jantar, despedi-me dos meus pais. O meu serão foi agradável, assistindo um pouco aos programas de televisão que passavam, antes de fazer a minha oração pessoal, conversando ternamente com Deus, e repousar a cabeça na almofada para adormecer.
Desfrutei de uma excelente noite, dormi profundamente, despertando muito bem disposto com os raios de sol que invadiam o meu quarto pela janela. Depois de um breve preguiçar, fui cuidar da minha higiene pessoal.
As enfermeiras chegaram pouco depois, retribuindo a minha excelente disposição com sorrisos bem abertos. Deram-me a medicação prescrita pelos médicos e começaram os preparativos para a cirurgia. Desinfectaram e depilaram a minha perna direita, aliviando a única espécie de ansiedade que residia no meu interior. Por muito disparatado que possa parecer, tinha um certo receio que os médicos se enganassem na perna…
Chegara a hora da cirurgia, estava prontíssimo e era conduzindo na minha cama para o bloco operatório pelo pessoal auxiliar. Foi uma viagem não muito longa e ao fim de uns breves minutos chegava ao local onde, finalmente, iriam retirar-me uma parte de mim que estava doente e enferma.
Estava um número considerável de pessoas no bloco operatório. Sentia-me seguro nas mãos daqueles médicos, enfermeiros e assistentes e sentindo a força protectora do Amor de Deus. Quando a anestesista me perguntou se apenas queria a epidural, podendo assistir a tudo o que se passava durante a cirurgia ou se queria entrar num sono profundo, eu optei pela segunda alternativa. Passados uns breves instantes, adormecia profundamente.
Algumas horas depois acordava na sala de recobro, sentindo frio e ainda completamente entorpecido, devido ao efeito dormente da anestesia. Espreitei por baixo do lençol que me cobria e verifiquei que grande parte da minha perna direita já não estava no meu corpo. Permaneci ali, naquela sala fria, por mais alguns longos minutos.
Vieram buscar-me, levando-me de regresso ao meu quarto, onde os meus pais já me aguardavam. Aparentavam um aspecto um pouco pesado, mas sorriram levemente quando me viram chegar. Não me recordo das palavras que trocamos, pois ainda me sentia muito atordoado, mas sentia aquele afecto e amor que a presença dos meus pais me transmitia naquele momento.
Não apreciava nada aquela sensação pós-anestesia, afectava bastante o meu humor e não permitia que conseguisse manter os olhos abertos durante algum tempo seguido. À parte este efeito da anestesia, sentia-me bem, não tinha dores de espécie alguma.
A noite chegava lentamente, apagando-se a luz do sol que entrava pela janela do meu quarto. O horário da visita chegava ao fim, despedia-me do meu pai que tinha de regressar a casa. O jantar foi servido no quarto, tive a companhia da minha mãe que ia passar a noite comigo. O jantar foi agradável, apesar da posição pouco confortável em que me encontrava.
A minha noite foi um verdadeiro inferno, pois o meu corpo começava a fazer reacção ao adesivo que tinha nas costas, ao longo da espinha dorsal, devido à epidural. Sentia uma urticária intensa, consumindo o meu corpo, parecia que a minha pele estava em chamas. Passei a noite em claro, não dando descanso à minha mãe e às enfermeiras, que faziam de tudo para tentar aliviar o meu sofrimento.
Aquela reacção prolongou-se pelos dias seguintes, era difícil conseguir aliviar aquela sensação ardente, pois o adesivo precisava de continuar colado à minha pele.
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