“Despe-te para mim amor,
o dia é de festa,
a chuva que cai é o que não presta,
restamos nós...”
E eu já me dispo,
Já o faço descobrindo o meu corpo tão teu sem nunca o teres afagado,
Eu já coloco o peito nu que tu tocas primeiramente a medo,
Seguidamente sem pudor,
Tocas-lhe com desejo
(As tuas mãos no meu corpo!)
Tiro as calças lentamente...
Como se não conhecesses o que escondo...
A distância...
Como se não me visitasses todas as noites o corpo...
Como se não conhecesses todas as curvas do meu corpo rectilíneo...
(As tuas mãos no meu corpo!)
Eu dispo-me e demoro-me
E olho o teu olhar, pedindo-me a nudez sem demoras...
Mas com demoras me dispo...
Pois quero-te querendo-me nu sem demoras para que, com demoras, eu me dispa para ti!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E te faça sofrer, e te faça ansiar por mim, pela minha nudez,
Que nos mantém distantes,...
Porque me queres nu!
Porque me queres consumir!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E agora estou nu,
E transformo o corpo para ti,
E já não sou eu nem tu és tu!
(As tuas mãos no meu corpo!)
E já não sei nada sobre ti,
Já não sei o teu nome nem respondo pelo meu,
Que nos obriga a viver vidas paralelas...
Só sei que quero estar nu na tua nudez,
Só sei que...
(As tuas mãos no meu corpo!)
És bela e tão mulher e tão minha e tão pura e tão perfeita e tão distante e tão real no meu sonho!
A tua nudez!
Tu mesmo! Tu como és!
E, lentamente, que acaba por nos afastar para sempre!
A tua nudez que vi...
Sem nunca ter visto!
...no primeiro dia em que te vi,
A tua nudez com que sonhei...
(As tuas mãos no meu corpo!)
Com que ocupei noites em branco!
A tua nudez que me deixa ver quem tu és...
E eu vejo-te....
(As tuas mãos no meu corpo!)
Mesmo pela cortina de nevoeiro nas minhas órbitas...
Eu vejo-te nua!