Segunda, 4 Junho 2007 às 01:18
Não, não venhas hoje que os sentimentos se escusam a aparecer. Não venhas hoje, que as palavras estão duras no pesar que me invadiu. Não venhas hoje, que a tristeza em pano de fundo escorraça o verbo, transforma-o, remodela-o em tons de escuro, difuso como a noite cruel.
Não venhas, que te estrago o ser na tristeza. Que incomodo. Que subverto a vida nos escaninhos por onde se vaza o lixo da alma.
Estou estranhamente cruel comigo, como se me tivesse desfeito contra os rochedos da escuridão mais escura.
Não venhas hoje, que a faca da palavra está sublimemente afiada no silêncio cortante da ausência.
Não venhas! É melhor reconquistar o espaço de mim, o verdadeiro espaço de mim.
Não venhas, que tens na palavra a luz que hoje me faz mal, perpetuado em mim o afecto desesperado.
Não venhas.
Fica na penumbra dos pinheiros, dos abetos. No teu jardim escondido nos muros altos.
Eu olharei por ti as palmeiras. O verde e o azul. O infinito das paisagens incandescentes. As queimadas e o orvalho.
Não venhas.
Quero partir sozinho na incredulidade de estar hoje assim.