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Não venhas

 
Tags:  diários de África  
 
Segunda, 4 Junho 2007 às 01:18

Não, não venhas hoje que os sentimentos se escusam a aparecer. Não venhas hoje, que as palavras estão duras no pesar que me invadiu. Não venhas hoje, que a tristeza em pano de fundo escorraça o verbo, transforma-o, remodela-o em tons de escuro, difuso como a noite cruel.

Não venhas, que te estrago o ser na tristeza. Que incomodo. Que subverto a vida nos escaninhos por onde se vaza o lixo da alma.

Estou estranhamente cruel comigo, como se me tivesse desfeito contra os rochedos da escuridão mais escura.

Não venhas hoje, que a faca da palavra está sublimemente afiada no silêncio cortante da ausência.

Não venhas! É melhor reconquistar o espaço de mim, o verdadeiro espaço de mim.

Não venhas, que tens na palavra a luz que hoje me faz mal, perpetuado em mim o afecto desesperado.

Não venhas.

Fica na penumbra dos pinheiros, dos abetos. No teu jardim escondido nos muros altos.

Eu olharei por ti as palmeiras. O verde e o azul. O infinito das paisagens incandescentes. As queimadas e o orvalho.

Não venhas.

Quero partir sozinho na incredulidade de estar hoje assim.

 
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asv
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Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 22/05/2009 08:43  Atualizado: 22/05/2009 08:43
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 Re: Não venhas
Maravilha! Há formas de trabalhar a palavra que ficam tão bem ao sentimento!...