Sou palavra e vão-me ler até ao fim. Posso não me levantar do papel, posso nem estar bem escrito mas tenho força. Tenho tanta que me vão ler até ao fim, garanto.
Conheci um miúdo que atirava pedras às nuvens. Também tinha força. Desenhava e escrevia os calhaus e atirava-os com uma indómita vontade de furar cúmulos e cirros, altas e baixas. Elas tapavam-lhe o sol. O sacanote queria ter o sol, escrever o sol, dizer o sol e rebolar-se nele. No fundo reclamava a o astro a cada chicotada do seu braço. O certo é que as pedradas por ele desenhadas e escritas, eram certeiras e cientes do seu propósito. As desafortunadas núvens não lhe resistiam. Não tinham hipótese.
O miúdo era de palavras fortes, daquelas que não se desmancham quando são atiradas em direcção ao céu. Também aquelas pedradas se lêem até ao fim também ele era palavra.
Pois é, sou palavra e vão continuar a ler-me até que acabe.
As palavras de um escritor são armadas de pedras escritas de branco. Muitas vezes acinzentam-se mas, são limpas e lêem-se de uma penada como se fossem água fresca no meio do deserto. Lêem-se até que digam que acabaram. Eu leio-as até ao fim porque gosto de ler palavras irmãs.
As de outro escritor, engalanam-se de rispidez enquanto se curvam de elegância e não mentem. Em boa verdade, prendem os olhos e rasgam as regras enquanto se entregam a uma leitura incontornável.
Há as que sabem a sentimento, as que são formas de doce, enfim, uma data delas que são como são... tantas, tantas. As palavras todas, são diferentes na leitura, é por isso que esta só pára no fim da escrita. Sou palavra e assim leram-me até aqui.
Obrigado.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.