Segunda, 7 Maio 2007 às 12:02
Entrámos na madrugada trocando sentimentos, partilhando-nos.
Foi uma madrugada com belezas a iluminar o caminho.
Acalentámo-nos, mimámo-nos.
Mas disse-te que hoje terias algo.
Dos caranguejos já sabes.
Das palmeiras e embondeiros disse-te à laia de lançar verde na tua alma.
Passeava na praia, seduzido pelo mar e pela quebranta das ondas. Em silêncio. Longe de tudo para que estivesses mais presente. Porque o barulho do dia-a-dia prende-nos a palavra que queremos, irrita-nos o trânsito, ficamos absortos nas vidas que passam por nós.
Mas, na praia, aquela praia longa e sem gente, com a areia endurecida pelo mar, eu vi-te.
Em muitos lugares. Saltitavas por entre o arvoredo, seguias-me, escondias-te. Deixei que pensasses que não te tinha visto. Queria saber até onde irias.
Seguiste-me sempre, como uma criança jogando ao esconde-esconde. E senti a menina que foste, nas palavras que me deste para trazer. Mas vi-te feliz e isso bastou-me.
Por isso, segui sempre em frente, durante momentos de frescura que me trazias, naquele sol forte, permanente.
Regressei. Sentei-me na toalha à sombra. Foi quando senti o teu sopro. Como um espírito que passa e nós sentimos o seu roçagar em nós. Sentimos que não estamos sós. E sonhei. Sonhei que os embondeiros eram o teu esconderijo, as palmeiras eram a tua sombra.
Tive saudades das tuas mãos. Aquelas mãos nervosas apertando as minhas. Sinto o teu corpo colado ao meu, como se tivéssemos reeditado o nosso abraço mais firme, mais doce. Aquele em que te senti toda, cada átomo teu, cada costela tua, os seios apertando-me, a boca na boca, a face na face.
Caiu uma lágrima. Porque nas lágrimas nos encontramos em saudade. Mas sorri porque o teu contacto foi único. Essa sensação partilhada de prazer e afecto.
Seguiste-me quando saí. Senti-te a voar ao meu lado. Poisaste no telhado do restaurante do Bruce, olhando o rio, o outro lado do mar. Brincaste depois com os cocos, atiraste pedras ao rio que saltitavam sobre a água. Vi-te a olhar para a minha lagosta e estendi-te um pedaço. Riste.
Achaste piada ao empregado de que te falei há muito. Viste que era mesmo ele. E continuaste o teu voo.
Quando cheguei a casa e me estendi sobre a cama, tu já lá estavas. Chegaste primeiro porque não passaste pelo trânsito de entrada na cidade.
Foi bom ver-te ali.
Não precisei de ligar o computador para te ter como fundo. Porque te enrolaste em mim e adormeceste no cansaço da viagem.