Vegeto em cinzas de desenganos
Em lamaçais desertos sem vivalma
Espectros sorriem
O que me querem?
Afasto-me da luz hipnótica
Porquanto me cega os olhos e o raciocínio
Rodopio em acenos de lubricidade delapidada
Fria, dormente em torpor
Petrifiquei no espaço e no tempo
Em letargia transformada em desamor
Corro e grito em campos ocultos no nevoeiro
Desconheço o chão que piso
Vou tombar certamente num rio convulsivo
Ou num precipício descomunal
Já não falo a linguagem dos humanos
Tornei-me bicho
Animal ferido
Fera revoltada,
Do grupo tresmalhada
Isolada do bando
Desgarrada da alcateia
Simplesmente carta fora do baralho
Perdida da manada
Fugida do rebanho
Apartada da multidão!
Elemento fora da ninhada, num assumir fatal
Gesto ordinário para um painel de juízes
Destruidora de um cordão policial
Demolidora de pragas de gafanhotos
Arrasadora de colónias de formigas
Revolto-me no nevoeiro cerrado
Num suicídio amotinar solitário
Como se fosse inevitável
Morrer no obcecado nevoeiro em calvário!