Quem sou eu?
Eu sou mais uma vítima do latifúndio...Sou um Sem terra. Você querendo eu te conto a minha história...Eu tinha minha terrinha, eu plantava, eu colhia. Da minha terrinha eu tirava o pão de cada dia, tirava o leite dos meus filhos e tirava a alegria de estar em contato direto com a natureza. Na minha terra eu plantava os sonhos de um mundo de paz e colhia os frutos com sabor de amor...Da minha terra, eu fecundava o solo com minhas próprias mãos e dele via nascer uma flor...Uma flor tão bonita, que sozinha já fazia primavera...Na minha terra eu vivia e gostava de viver. Mas alguém chegou. Alguém tomado de ambição, alguém que empunhava nas mãos armas de fogo. Enquanto eu empunhava minha flor...Tomou minha terra, queimou minha lavoura, expulsou minha família...Alguém chamado latifundiário, grileiro safado que só sabe roubar. Que mata por ambição e que quer tudo para si... O que eu não entendo, é que ninguém faz nada para acabar com isso. Todo mundo se omite...Será que o mundo é assim ou são os homens que o fazem assim? Será que ninguém vê que Deus deu o ar, o sol, as águas como bem natural a ser aproveitado pelo homem, ele deu também a terra, e que essa deve ser dividida? Será que ninguém vê que duas ou mais mãos unidas formam uma corrente que nada poderá arrebentar? Acho que não... E é isso que acontecerá com muitos outros o que aconteceu comigo. Muitas cabeças rolarão lutando pelo direito de ter aquela que agora lhe é roubada, que futuramente será seu leite...Eu tinha minha vida em paz, mas vieram me roubar o que era meu. Eu não cruzarei os braços nem ficarei vendo ir embora aquilo que eu ergui com o suor de meu rosto, não! Isso não!!...Lutarei até as minhas últimas forças, morrerei se preciso for, mas minha semente de luta ficará fecundada sobre essa terra que um dia foi minha. E essa semente brotará e ela se enraizará e terá fruto e esses frutos continuarão lutando pelo direito de viver e de irradiar vida, continuará lutando contra essas injustiças que são feitas pelos homens e para os homens... E esses frutos continuarão semeando a paz, o amor e a dividir o pão, mesmo com aquele que lhe tira a terra. Esses frutos continuarão fecundando o chão como um dia fecundei... Até que um dia a terra que me foi tomada será dividida e essa terra que foi minha morada, que fora meu leito, será agora também, o meu perdão.
Essa é a minha história, está satisfeito? Agora posso saber o que estou fazendo aqui? Quem é você? Porquê falei tudo isso? Que lugar é esse?
Neturno....