A voz é a manifestação da nossa condição íntima
Por isso a minha voz se quebra na estrada deserta
Se transforma em silêncio nas noites nubladas
Sufoca pela ausência de um amor
Grita de desespero num vazio por preencher
Metamorfoseia-se em gemidos de dor
Quando quimeras se agarram
Me prendem e torturam
Quando as vicissitudes da vida
Abafam a súplica da anulação
Do precipício que se aproxima
A rouquidão perpetua-se
Como se fosse mensageira das trevas
Onde os seres humanos permanecem em agonia
Qual dor universal a recair sobre os meus ombros
E o grito não sai
E o canto não se faz de par em par
Apenas o movimento dos lábios
Que fica por decifrar
Numa ensurdecência pacífica
De quem aceita os reveses da existência
Então num raio que cai sobre a Terra
As vozes se unem vibrantes
A luz se faz prodígio
O silêncio transforma-se em hino emocional
A sombra cinzenta desvanece-se
A tormenta fenece
O arco-íris surge como sinal
As nuvens negras refugiam-se no horizonte que anoitece
O sol amorna poros de afectos numa envolvente melodia
Sorrisos desabrocham em sincronia
Enquanto lá em baixo na falésia
Ondas gigantes entoam o canto da chama em harmonia
No acender dos corações em anelo de partilha
Mesmo nas intempéries, quando os barcos
Teimam em se afundar
E já não importa o abismo
Porque sem medo planaremos sobre a Serra e o mar!