Falar de um Deus que está entre o ar e o aço
Que está no intervalo da voz e o calar para sempre
Que está no sentido quando se olha o de dentro por fora
Deus seria o grande o rio, e o que é ser-rio, correndo, secando
A imaginação passa do tudo, do você, do agora, do quando, do onde
Passa do saber, do amor em si, do porquê, do com quem, tô com Deus, me basta
Além da cinza, da cova, do resto, coisa que não acaba, que não tem início, meio, nem fim
Deus, grande intervalo, entre o saber e o Ser, entre o bater e o coração, do sempre aprender a Ser
De um Deus bem além do grande vácuo do mais além do profundo Ser, nem sei se é preciso saber
Tudo nele é possível até sem estrada, até subir em escadas sem degraus, amando sempre, tudo pro Ser
Deus é a ponte, mesmo invisível, mesmo indivisível, nada egoísta, é a vista do alto da ponte, grande horizonte
Deus morador da montanha distante, azulada, parada às pessoas distantes e vivas à quem está dentro dela, seus fieis
Falar de um Deus que existe e existir não se explica, está em algum ponto
Livre vento, solto pensamento, sem ponto fixo, plantado ali no existir
Nem sei quando, só sei que onde estou passo, os tempos não são meus
Quem sabe com fé sou onde não sou, nem passo onde não estou, sou astro, sou estrela iluminado por Deus
José Veríssimo