Face rosada,
bússola quebrada de muitos sonhos,
de mãos dadas no escuro
de pegadas erradas
de atravessarmos o muro de mãos atadas,
de pedaços de tarde
(pedaços de noite)
pedaços de sussurros frenéticos
(sussurros de morte),
diz se caminhamos
(se caminhamos norte)
diz o rumo
diz o rumo,
diz a estrada e o caminho
diz as coisas que vês
diz as casas e as árvores
diz ao mundo quem és,
diz das pessoas que passam
da roupa que vestem
da cor dos cabelos
(dos vestidos)
da cor das calças dos maridos,
da cor dos seus olhos
únicos como cada um
arco-íris de expressões
de tamanhas sensações
das lágrimas que salgam a vida
com a perfeição de uma palavra sentida,
diz o céu azul e quente
de nuvens brancas
(e amarelas)
(e cinzentas),
diz das estrelas que são tantas
na noite que já aí vem
diz do sol que se morre
diz-me da lua também,
diz o vento que nos refresca
diz da dança que me deste
diz do medo confiança
na passagem mais agreste,
diz do mundo
diz do rumo
diz do universo de nós dois
diz da junção do acaso
(do verso e do reverso)
diz do poço sem fundo
sem amor submerso,
diz do cálice dos teus lábios
de minha fé vermelhos
como a tua face quente
de paixões e de desejos,
diz da sombra que não vejo
o tesouro dos meus medos
que percorro lentamente
com a ponta dos meus dedos,
diz do prazer
diz do prazer
diz do calor feito de desejo
diz do desejo
(do desejo de te ter)
diz do que viste numa viagem pelo universo
(pelo verso e o reverso)
pela forma das coisas
pela cor
(pela sombra)
pela luz que não vejo
pela mulher que desejo
diz de ti
(do teu corpo)
que exulta num êxtase fremente
e diz agora num repouso
num descanso dormente
se me vês como eu te vejo
se sabes como desejo
num olhar de pele aflorada
como um toque na tua face rosada.
Emanuel Madalena