Posso imaginar-me tudo
porque sou pouco mais que nada.
O rei do mundo; o dono da selva;
o louco das pradarias; o amante perfeito
que nunca fui nem sou. O paradigma, o modelo,
a arte de fazer arte com arte e até a ausência dela.
Sonho ser o imperador ainda que sem império
o tal rei sem reinado
o diamante, da coroa que não uso.
Sonho ser tudo e permito-me sonhar assim
porque não sou nada.
Ou porque sou nada – melhor dizendo,
pois não se ser nada sempre se é alguma coisa.
Permito-me apenas ser isto: Nada.
E quando sonho imagino ser.
__________
de "O Livro das Inquietações", do Autor