XIV – O GRANDE OCEANO
VII
A CHUVA (RAPA-NUI)
“À noite sonho que tu e eu somos duas plantas
Que se ergueram juntas, com raízes enredadas,
E que conheces a terra e a chuva como minha boca,
Porque de terra e de chuva estamos feitos. Às
[vezes
Penso que com a morte dormiremos abaixo,
Na profundidade dos pés da efígie, olhando
O oceano que nos trouxe para construir e amar.
Minhas mãos não eram férreas quando te
[conheceram, as águas
de outro mar as passavam como por uma rede; agora
água e pedras sustêm sementes e segredos.
Ama-me adormecida e nua, que na praia
És como a ilha: teu amor confuso, teu amor
Assombrado, escondido na cavidade dos sonhos,
É como o movimento do mar que nos rodeia.
E quando também eu vá me adormecendo
em teu amor, nu,
Deixa a minha mão entre os teus peitos para que
[palpite
ao mesmo tempo que os teus mamilos molhados
[na chuva.”
Pablo Neruda
(✩ 12/07/1904 — † 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas