Poemas : 

Uma vida inteira.

 



Tenho ainda poucos anos de vida
E acho que poucos são os que me restam…
Passei uma vida inteira vivendo o impensável;
Vivi sonhos, vivi realidades irreais
Vivi tudo mesmo a vida em si.
Dezoito anos de uma vida sem sentido
Castigada por uma eterna busca de mim mesmo.
Dizem que adolescência serve para isso mesmo
Mas se a minha opinião ainda conta:
Sinto que vivi trezentos anos sobre mim
E nunca me descobri;
Não me sinto novo e à espera de me ir descobrindo…

A vida passa diante dos meus olhos
E todos os caminhos são tortos
Escritos nas mesmas linhas a direito
Que me levam sempre à solidão.
Passei a vida inteira a tentar se algo
E quando agora chega a hora de ser eu
Sei ser tudo menos eu próprio.
Olho diante do espelho e dou grito
Ao ver um estranho nele impingido
Como serei que mudei tanto?
Sempre soube ser diferente
Desde miúdo pequeno que sei ser diferente.
Agora surge-me a pergunta:
Sou diferente de quem?
Dos outros ou de mim mesmo?

Passo a vida a questionar
Nada de acções, só questionar.
Questiono-me sobre o universo,
Sobre a morte,
E sobre tudo aquilo para que não existe resposta.
Quem me dera fazer perguntas que já tem uma resposta…
Quem me dera ser ignorante e feliz como muitos…
Mas em vez disso
Tenho esta consciência que só me faz pensar.
Como eu cheguei de sonhador
A um pensador?
Se pelo menos fosse um pensador com respostas…
Mas ao contrário sou um pensador
Sem interesse em responder a nada
Sento-me olhando o céu
À espera que como por milagre de um a religião qualquer
Um dia em vez de chuva chova as respostas que procuro.

E quando não me questiono,
Procuro a futilidade do amor.
Será que eu não me canso
De procurar sempre a inexistente felicidade?
Será que já não sei que para ser feliz tenho que ser ignorante?
E raios que eu sei que não sou ignorante!
Posso ser louco e demente até,
Mas estúpido?
Isso nunca o serei!
Podem julgar-me ignorante,
Mas na realidade não o sou.
E ponho-me à procura do amor que sei não existir
E se existe, só existe nas minhas poesias
E nas minhas mais profunda fantasias
Porque nunca no mundo haverá alguém para mim.
Ando sempre à procura à procura?
Mas do quê?
De quem?
Será que me amo a mim mesmo,
Mas que neste ódio que por mim próprio sinto
Não consigo contemplar?

Raios para o mundo e as suas questões
Raios para todos e as suas sociedades organizadas
Raios para a raça humana que se tinha de por em pé para pensar!
E porra para a vida!
Que se esta minha vida inteira!
 
Autor
Blackbird
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1922
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 07/05/2009 23:28  Atualizado: 07/05/2009 23:47
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Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: Uma vida inteira.
Blackbird, não sei a tua idade, se este poema foi escrito ou não à pouco tempo. Para conversa teria toda a relevância ou talvez não...!
Eu que tenho a idade que tenho só sei (dia após dia) que muito pouco sei, principalmente das pessoas.
Aos 18 anos escrevi e publiquei nalguns jornais de Angola poemas mais ou menos deste teor. Questões e mais questões emaranhavam-se nas minhas dúvidas existenciais e muitas vezes desejei ser estúpida porque de facto ter alguma capacidade de reflectir a vida e o mundo só nos traz sofrimento.
Mas não... ser estúpido nunca, É o mesmo que viver num túnel escuro o que tira certamente sentido à nossa própria existência.
Hão-de vir os dias em que te sentirás mais optimista em relação à vida, ao amor. às pessoas na sua generalidade. E depois... é precisamente a vida que nos ensina a sobreviver a holocausto dos nossos sonhos fragmentados impiedosamente.
Mas para a frente é que é o caminho. SEMPRE!
O teu poema é triste, mas gostei muito de o ler.
Desculpa-me estas divagações...
Vóny Ferreira