Confesso que estou cansada,
meu corpo deitado ao avesso do teu.
Todo dia um desejo desperdiçado,
sinto me perder entre os lençóis quando teus olhos fingem não me ver.
Tua boca um dia foi doce, fonte do meu prazer pouco contido,
até nas ruas me via contigo,
mas o tempo a secou, a tornou árida.
E aqui estou rejeitada sobre a cama, meio vestida, meio nua,
com um travesseiro entre as pernas,
prensando-o como se elas estivessem ao redor da sua cintura
e de tanto me mexer você acorda,
e tua cegueira permanente impede de notar meus olhos acesos,
mas com calma peço uma rápida atenção,
com calma beijo levemente teu pescoço,
tua boca, teus ombros, tua barriga...
até sentir tua mão...
O leve toque fez pulsar forte meu coração, para onde você queria levá-la ?
Breve ilusão, um simples empurrão me fez desistir de continuar,
mas até suando estava, não conseguiria parar.
Gritei no teu ouvido um grosso obrigada, escutando um "hum" como resposta
e logo fui ao banheiro descarregar.
Sentei sobre a tampa da privada e desesperada comecei a chorar,
doce mulher arrasada, que preferiria estar diante de um balcão de bar,
com um belo garçom sorridente,
mas nem isso posso fazer,
não passo de uma mulher casada,
privada de vontades, castrada pela falta de amor do próprio marido,
sou um vazio, sou o incompleto
e quem atrairei para minha luz tão minguante?
Apareço da janela esquecendo de como estou,
na verdade uma falsa liberdade me toma quando me mostro tão exposta do alto do meu apartamento.
Um vizinho insone e atento me nota
e com a janela de frente para minha ele constrói uma ponte até mim,
que a partir da tua imaginação se mostra tão sólida que só me faz pensar em seguir.
Mas aqui estou ,
sonhando ainda acordada
e na verdade o rapaz a muito saiu de tua sacada
e eu fiquei imaginando se ainda haveria tempo para fugir.
Amanda