E porque a onda se afogou,
um galo cantou para a noite ser,
dois negros vaginais o meu falo engoliram,
três pantufas aos meus pés,
quatro mesas arrancaram a perna pirata,
porque é preciso saber correr sobre fios de nylon,
para fulminar relâmpagos.
Porque o ar se asfixiou,
um tremor decapitou um cutelo,
dois cisnes de Bari conduziram o trenó de Nicolau,
três setas de Ávila abateram o fogo de Teresa,
quatro saladas molotov bradaram ao cemitério voador
porque é preciso arrancar asas aos anjos,
para a cabidela dissecar o jejum.
E porque a chama se incinerou,
um olho se golpeou ao meu espelho,
dois violinos de Mytilene tocaram a harpa lésbica de Alcaeus,
três pombas brancas voavam defuntas,
quatro dedos vociferaram quartos sentidos,
porque é preciso saber apontar à miragem,
para que um diário tenha um orgasmo.
E porque a terra se enterrou,
um borrão definiu uma mão,
dois Adonais se analisaram falicamente,
três teias em Turim fizeram um solário,
quatro prepúcios excomungaram Saturno,
porque é preciso amarrar prisões,
para que os cadáveres caiam dos túmulos.
Para o uno verso.
© BM Resende