Eram bem pequenos. Viviam em mundos separados. Brincavam separados. Um dia apareceu um caçador. E as matilhas dispersaram no susto. O lobinho e a raposa, correram tanto tanto que perderam a noção da distância. E encontraram-se logo ali. E logo ali brigaram.
Feriram-se. Não se aperceberam que o inimigo era outro. Na exaustão da dor, olharam-se nos olhos e pararam. Perguntando-se o que faziam. Eles não eram presas fáceis nem predadores astutos. Eram apenas dois pequenos animais perdidos num embrenhado de silvas urticantes. Que ainda mais atiçavam a dor das feridas mordidas. E foi aí que reparam que as próprias lambidelas, não chegavam para sarar todas. Então quase por magia lembraram-se, e partilhando lambidelas, lá foram curando tudo o que havia para curar. Ficaram amigos, cortavam as silvas e brincavam. Não se lembraram mais do caçador. Não se feriram mais. Lá foram pela floresta fora. Enfrentando perigos, afastando os pesadelos, cumprindo sonhos perdidos à muito.
Hoje já mais crescidos, relembram as velhas histórias, olham nos olhos um do outro, e quase sem dizer nada, quase me fazem acreditar que se amam.