(o mais breve e brutal relato de uma história de droga)
Maria Papoila era menina, senhora moçoila que, de casadoira, se enamorou de um Zé Ninguém, alguém sem dizer quem que distribuía zeros e desdém.
Papoila, de saia leve e flutuante sobre a brisa que lhe torneava as pernas, tinha olhos de flor corça e afoiteza meliante. Falava de cantar no balanço embalado em que embarcava os seus pés de miúda. Beijava o ar com cheiro de inebriar e, sem saber como, tornava-se ópio de dependência firme. Maria Papoila era flor delicada e vício.
Ninguém, o Zé, não se dizia verdadeiro. Chegava encapotado sem mostrar o semblante e escondia-se de ser. Conheceu a Maria quando certa vez, ao passar por um canteiro ordeiro, inspirou o seu aroma que se sobrepunha aos demais. Enamorou-se no momento. Pouco habituado a tais rasgos de amor apaixonado, enrolou-se dentro da pele e saboreou-o. Zé Ninguém perdera-se de si e precisou dela. O vício tomara-lhe o conhecimento e a delicada e esvoaçante Maria conseguira-lhe uma trela justa.
Maria Papoila continuou a espalhar semente, como se em Zés o mundo fosse fértil. De facto é. Zé Ninguém descendia da linhagem e deixou descendência sua que, como ele, usava grilhões de sedução e delicadeza.
Dos Zés não ficará memória. Das Marias... ficará ninguém.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.