Hoje,
Resolvi sobrevoar muralhas.
Pés descalços,
Sangrei centímetros lineares
Tijolos sobrepostos no silêncio calcificado.
Verdades aterradas no concreto
Uma a uma, amordaçadas.
Inválidas cinzas.
Avistei-me ao centro,
Enclausurada,
Na sombra de meus sonhos
E teias que desconstruí.
Emaranhada em memórias,
Fartas insígnias
De outonos esquecidos.
Passo a passo
No equilíbrio do vento
Circundei minh’ aura
Ao sentir passar o tempo
À minha frente
(outrora no centro,
Ninho de esperas)
Revi gastas batalhas,
Perdas e enganos incontados.
Refiz planos flagelados
Encontros engasgados
E esqueci de mim,
Numa chuva rasante qualquer
Num tempo sem nome
Sem presença,
Sem existência de lugar
E de enfim.
Sobre a muralha,
Miro os passos,
Carimbo dos sonhos enterrados,
Marcados a fogo
Na terra batida, num verão qualquer.
Pássaro-preto rouba-me as chaves
E despede-se,
Num fio de azul,
Da minha infância.
No pátio da clausura,
Minha sombra se desfaz,
Com ela, a muralha deste fardo.
...
Hoje,
Aprendi a ser só.
Fátima Venutti