Naquela manhã, tinha acordado surpreendentemente feliz, cheio de energia.
Tomei banho, vesti-me e fui tomar o pequeno-almoço a uma esplanada que havia em frente ao meu prédio. Pedi o habitual: um galão e um pastel de nata.
Estava eu a tomar a minha refeição quando o inevitável aconteceu. Uma rapariga linda, de cabelos loiros, olhos verdes esmeralda, uns lábios delicados e com um corpo excepcional passeava-se a ver as lojas que haviam naquela rua.
Fiquei fascinado! Como ela era linda…
Terminei a minha refeição e fui meter conversa.
--Bom dia - disse eu.
--Bom dia – disse ela.
Tinha uma voz doce e melodiosa, como eu nunca tinha ouvido.
-- Não pude deixar de reparar na sua estonteante beleza.
-- Obrigado – disse ela - mas não diga isso que eu fico envergonhada.
-- Ok. Eu não digo. Mas… acho que não percebi o seu nome…
-- Ana.
-- Lindo nome. Desculpe, esqueci-me que “não” gosta de elogios.
-- E o senhor? – Disse ela naquela voz linda.
-- Ricardo. – disse eu sorrindo – Importasse que nos tratemos por “tu”?
Ela hesitou. Não estava à espera de lhe aparecer um desconhecido assim do nada a pedir-lhe para ser seu amigo.
-- Sim. Penso que sim.
Seguiu-se um silêncio em que pareceu ter havido”química”, apenas interrompido pelo ruído de uma mota.
-- Será que me podes dar o teu número de telefone?
-- Sim. Agora que somos “amigos” acho que posso. Estás pronto para apontar?
-- Claro. Este é o meu: 914291287.
-- O meu é este: 968461578
-- Bem, não posso ficar mais tempo aqui à conversa contigo, tenho de ir trabalhar. Dá para irmos beber um copo logo à noite?
-- Não sei. Durante a tarde mando-te um SMS a confirmar.
-- Estarei à espera – disse eu.
Demos dois beijos na face e cada um seguiu o seu caminho para o emprego.
Durante essa tarde não consegui pensar em mais nada, apenas naquela “musa”.
Tentava trabalhar mas dava sempre por mim a pensar naqueles lindos olhos verdes.
Como não me conseguia concentrar, decidi ir arejar.
Saí do meu gabinete, atravessei o corredor em direcção à varanda.
Esta estava vazia. Estava uma cadeira a um canto. Fui busca-la para me sentar, mas ouvi uma voz conhecida.
--Que estás aqui a fazer? – era Diogo, meu assistente e grande amigo de longa data – não devias estar a analisar aqueles contratos dos fornecedores?
Fiquei pensativo mas por fim falei.
--Sim, devia. Mas não consigo. Aconteceu uma coisa.
Ele sorriu “maleficamente”… ele sabia quando é que eu estava assim e o porquê de assim estar.
-- Conta lá… É miúda n’é? – disse ele.
Corei, e acenei afirmativamente com a cabeça.
-- Como é que ela se chama?
-- Ana…- disse eu olhando o céu.
Ele voltou a sorrir e por fim disse:
-- Nunca te vi assim… Estás mesmo apanhadinho. Mas conta lá… como é que ela é?
Sorri.
--É linda! – Gritei - cabelos loiros, olhos verdes, … Queres que diga mais?
Seguiu-se de um silêncio estranho.
--Então? Não dizes nada? – disse eu.
Ele baixou os olhos.
--É que… - gaguejou Diogo – Nada esquece lá isso.
--Que é que se passa? – disse eu.
Ele olhou-me nos olhos.
-- Pensei que fosse uma pessoa que eu conheço… mas não pode ser.
Suspirei de alívio.
Já eram horas de ir almoçar pois o relógio da igreja, que era perto da empresa, tinha acabado de tocar doze badaladas.
--Vamos almoçar… - disse eu – Que é que te apetece?
-- PIZZA! (risos)
Saímos da empresa a falar.
Estávamos já sentados a saborear a pizza quando o meu telemóvel toca no tom das SMS. Era Ana a dizer que podíamo-nos encontrar para ir beber o tal copo.
Terminámos a refeição e disse-lhe:
-- Esta tarde não vou à empresa. Tenho de ir às compras. Afinal de contas tenho de me mimar para logo à noite.
Fui ao centro comercial. Comprei uma camisa, umas calças de ganga, uns sapatos e um perfume.
Voltei para casa, tomei novo banho e arranjei-me. Estava “espectacular”, “um arraso”.
Ainda eram só 18:00h.
Sentei-me no sofá e liguei a televisão. Estava a dar a repetição do jogo 7 da final da NBA. Celtics contra Lakers, que jogo.
Quando o jogo acabou já eram 19:30h.
Tínhamos combinado encontrarmo-nos num bar no Bairro Alto.
Peguei nas chaves do carro e saí de casa.
Quando lá cheguei ela ainda não tinha chegado, por isso sentei-me numa mesa mesmo no meio da sala para que ela me pudesse ver quando chegasse.
Pedi um moscatel.
Ela chegou mesmo quando acabei a bebida.
Vinha deslumbrante. Com os cabelos loiros soltos, e com um vestido vermelho que lhe deixavam ao descoberto as suas belas pernas esguias.
Levantei-me, dei-lhe dois beijos e puxei a sua cadeira para trás para que se pudesse sentar.
Sentou-se.
-- Estás linda… - disse eu.
-- Obrigado – disse ela baixando os olhos.
--Que queres beber?
--Pode ser um whisky.
Chamei o empregado.
-- São dois whiskies.
Continuamos a conversa.
-- Bem, de que tipo de musica gostas? – disse eu.
-- De momento só oiço rock e derivados.
-- Eu também. Já temos alguma coisa em comum.
Ela sorriu, mostrando um sorriso lindo. Tudo nela era lindo.
A noite foi passada assim, a fazermos perguntas um ao outro sobre os gostos de cada um.
A noite estava no fim.
-- Como vieste cá ter? – disse eu.
-- Vim de táxi. – disse ela.
--Queres que te leve a casa?
-- Se não te importares, era um favor que me fazias…
-- Não me importo nada. Assim até fico a saber onde moras. Eu moro em frente á esplanada onde nos conhecemos hoje de manha.
Fomos andando até ao carro, que tinha ficado estacionada a 1 quarteirão do bar.
Quando lá chegamos, abri-lhe a porta e quando ela entrou voltei a fechar a porta.
Demoramos cerca de 5 minutos a chegar. Morava num prédio semelhante ao meu, com lojas nos andares inferiores.
--Queres que te leve lá acima? – disse eu.
--Não é preciso, não te incomodes…
Não insisti.
Dei-lhe um primeiro beijo na face, mas ao segundo não resisti e beijei-a nos seus doces lábios.
Ela olhou para mim como quem diz:” Porque fizeste isto? Acabaste de estragar todas as hipóteses de haver mais do que uma amizade.”
--Boa noite – disse eu - e virei as costas para me ir embora.
Quando já estava a entrar no carro ouvi a sua doce voz:
-- Obrigado pela noite que me proporcionaste. Até à próxima.
Entrei no carro e dirigi-me a casa.
Quando lá cheguei não sai logo do carro. Fiquei a pensar nela e na forma como me tinha olhado depois do beijo.
Cheguei à conclusão de que não poderia voltar a vê-la pois só me iria magoar.
Saí do carro e entrei no prédio e subi as escadas em direcção a minha casa.
Entrei.
Estava tudo com tinha deixado.
Procurei uma folha de papel numa das gavetas da cómoda.
Tinha uma caneta em cima da mesa da sala pelo que iria escrever-lhe uma carta, mas antes disso, telefonei ao Diogo a dizer-lhe que iria sair do país e recomeçar a minha vida noutro sítio do globo.
Ele ficou surpreendido mas como bom amigo que era, não fez perguntas.
Então comecei a escrever:
Querida Ana.
Vou partir.
Para onde??? Não sei…
Porquê??? Não consigo viver sem te ter…
Irei para um lugar longe para que possa recomeçar a minha vida.
Começarei um novo “império” noutro sítio.
Mas… Todas as noites de luar… Quando o vento soprar, ira sussurrar o teu nome:
ANAAAAAAAAAAAA….
Do para sempre teu:
Ricardo
Depois de ter escrito a carta, encontrei um envelope no qual escrevi o endereço e meti a carta.
Fui pô-lo no marco do correio que havia ao fundo da rua.
Nessa mesma noite, fiz as malas, arrumando tudo o que iria precisar para a minha nova “aventura”.
Chamei um táxi. Era tarde, mas mesmo assim, acabou por vir.
--Para o aeroporto. – disse eu ao motorista.
Quando lá chegamos, paguei e dirigi-me para dentro.
Naquela noite ainda havia um último voo para Moscovo que estava atrasado.
Comprei o bilhete para a capital russa.
E finalmente embarquei em direcção a um país onde toda a população me desconhecia.
Ricardo Quintos