Sobre meus Rios...
“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia...”( Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XX"
Heterônimo de Fernando Pessoa
“... Olhando Belém enquanto uma canoa desce o rio
E um curumim assiste da canoa
Um Boeing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores que os de Fernando Pessoa.
Molhando meus olhos de verde floresta
Sentindo na pele o que diz o poeta
Eu olho o futuro e pergunto pra insônia
Será que o Brasil nunca viu Amazônia
Eu vou dormir com isso
Será que é tão difícil...” (Olhando Belém- Celso Viáfora e Nilson Chaves)
Bem falou dos seus Alberto Caeiro, poeticamente retrucou um Paulista (Celso Viáfora) quando viu os nossos e compôs “ “Olhando Belém”. Um olhar avesso ao que nos faz tão diferentes ( Amazônidas e Paulistas), um fitar cheio de surpresa e encantamento diante da vastidão e do desamparo que nos acompanha...
Permito-me aqui por eles navegar, nalguns que tanto já cruzei: PARACAUARÍ ( da minha Marajó), GUAMÁ, e tantos mais num Pará repleto de águas, de uma Amazônia traçada de Rios. Perpassam por mim afluentes que naveguei, ao viver no Amapá(extremo Norte) muitas, inúmeras vezes cruzei de barcos, lanchas ou navios uma grande distância que separa em águas o Pará do Amapá, Macapá de Belém. Pequenos braços de rios, marear ora a margem da floresta ora nas grandes e caudalosas Baias. Atrevimentos e delícias. Conhecer ainda que de longe a realidade dos povos ribeirinhos a habilidade das crianças ao conduzir as pequenas embarcações ( cascos) ora para vender camarão ora para recolher tudo que os passageiros levam bem embalado para jogar na passagem, roupas, alimentos. Uma perícia, um risco permeado pela necessidade atroz. Cenas indescritíveis e inesquecíveis.
Gira o mundo globalizado e a Amazônia continua a mesma com toda a sua intimidante beleza e infatigável necessidade. Os Rios que me aventurei foram muitos.
Mas Rio que perpetuei na vivência, pelo belo, grandiosidade, majestade e mistério foi um: O RIO AMAZONAS. Nele pude tocar, ver o Sol se por a lua se esconder e o dia nascer tantas vezes, bem a minha frente, cúmplices, ele e eu.
Macapá no Amapá é única cidade na Região as margens do Rio Amazonas. Ele está lá, frente a cidade compondo pintura com a Fortaleza de S. José de Macapá ( uma das mais belas do Brasil).
É ele o próprio que nalgumas vezes sequer permite que nos aproximemos da Orla tamanha a impetuosidade de suas águas quando se atiram a terra trazem troncos, vegetação e nessas horas os carros e seus temerosos donos se põem a distância. É o Amazonas ao primeiro olhar um arrepio um silêncio uma indagação. Calando fundo a emoção do assombrar.
Meus Rios os rios que me atendem os rios que enamoro são amplos e diversos. Quando descobertos perigosamente um risco pois que suas entranhas são ambicionadas.
Meus Rios são acalanto enfeitam versos alimentam meu povo. É um universo.
Na região inteira são tantos: Negro, Solimões, Amazonas, Madeira, Xingu, Tocantins...
No Pará: Jarí, Tapajós, Xingu, Guamá, Gurupi, Araguaia, Trombetas, Acará, Moju, Camará, Gurupá, Pará, Tocantins, Capim, Nhamundá ( e muitos muitos afluentes).
No meu universo um espetáculo se desnuda, abrem-se as cortinas e ali bem na minha frente para que meus olhos vejam, o coração se emocione e a voz emudeça em oração estão os meus Rios, meu povo da floresta, meus seres enfeitiçados, meus bichos, meus pares, minha cura. Meus Rios trazem consigo seus protagonistas,seus braços,habitantes que por vezes mais agonizam que protagonizam.Lamento que os antagonistas sejam fortes. Precisamos sobreviver. Dos meus Rios muitos dependem. É subsistir.
Mas não posso negar meus Rios são os meus, fluindo, fluentes, belos de calar.
Fascinantes a fazer refletir. Paralisam o olhar.
Aqui, concordo com o Paulista. “... os rios da minha Aldeia são maiores que os de Fernando Pessoa.”
[size=large]Citando:
A felicidade é branca... O amor tem matizes que nos fazem ver o infinito..
.
O desejo de escrever persiste, por vezes em tons felizes, vibrantes cores, outras em tons pastéis. cor de pérola, mas o que importa é que não há r...