Este pode ser o instante último dos pensamentos
que ainda me restam…
Instante de dor consentida na mágoa
Alucinante da saudade…
Instante último de um tempo
Que não sendo meu, senti que um dia era minha pertença…
Não lhe conhecia o seu rosto,
Não imaginava os seus contornos…
A sua presença era visível na ausência…
Contudo, o hábito do novo dia,
Criava em mim a ilusão…
Não pensava o tempo a finar-se
Levando-me consigo…
Vivia numa inconsciência só geneticamente consciente…
Acreditava na Eternidade como fazendo parte dela….
Hoje, sinto a angústia das horas,
O anunciar de novas perdas…
Ausências que anunciam outras ausências…
Agora o coração chora baixinho,
Não vá o tempo acordar de mau humor…
A dor que se expande na Alma,
Uma dor cansada, rendida…
A angústia dos fins, das inexistências infindáveis…
As vozes, os rostos, os passos, os sorrisos e as lágrimas
Que partiram para sempre…
Acordo e sei que amanhã voltarei para a sua inexistência…
Hoje tenho a clarividência de saber
Que a maior parte das coisas
Que me disseram que eram as mais importantes,
Valiam menos que o mais fedorento excremento…
Hoje, mais que ontem, menos que amanhã,
Tenho a certeza que nos militarizam a mente
Durante dois terços da vida…
Mentindo-nos sobre os valores autênticos e nobres da vida…
Durante dois terços da vida enganam-nos
Com slogans publicitários de Poder, Juventude, Riqueza,
Incitando-se a requerer o ingresso no mundo dos poderosos,
Oferecendo-se o primeiro lance ainda na condição de escravos…
Um dia, de repente, convencem-nos que já não precisam de Nós,
Somos velhos, inadequados, desactualizados, inúteis…
Tecnologicamente Incapazes…
Tentam dizer-nos que o Amor é sinónimo de Pornografia…
Reduzem o valor de um beijo, de um abraço ou de um sorriso…
O valor de tudo reside na susceptibilidade de poder ser convertido em valor económico…
Os amigos de ontem, hoje são homens e mulheres de negócios sem tempo
Para investir em relações sem valor monetário…
Todas as pequenas coisas de que a vida é feita,
São coisas ridículas….
Devemos envergonhar-nos das nossas emoções…
Somos patéticos…
Lentamente, acabam por nos abandonar num lugar sem nome,
Onde nada nos é familiar…
Um lugar, onde, quantas vezes, durante a Noite nos erguemos,
Como fantasmas, procurando na escuridão os velhos interruptores…
Quantos sons pensámos ter escutado…
Por instantes, pequeninas fracções de Tempo,
Quase sentimos Esperança,
Quase podemos sentir o calor do nosso velho cão roçar as nossa frágeis pernas…
Quase Acreditamos num Milagre,
Um Milagre antes do último instante…