Crónicas : 

Crónica do O

 

Esta crónica poderia chamar-se eterno O. O que nunca escrevi e nem direi aos ouvidos mais sedentos. O que nunca assumi como meu. O que, não dizendo, fui lendo de forma ávida e expressiva ou O que sempre quis dizer. O que interessa é que há em nós algo que sempre nos sobra e assim nos deixa num estado impaciente, seja O dia ou O acontecimento ou ainda O mistério de nunca conseguirmos ler as outras mentes.
Em suma, O importante é assumirmos O nosso passado, meio caminho andado, para assumirmos O nosso presente e, assim, inventarmos um traço verde da esperança que fica tão bem ao lado do que se segue – O futuro.
Depois há aqueles que personalizam O seu, adaptado modo de estar, quando nos dias de um nevoeiro empecilhado disparam réstias de uma maresia inacabada, retirada lá para os lados do Trancão, rio tão poluído como alguns egos estão nesses dias.
Falam e escrevem tanto, que O rio não lhes chega para a água que metem e retiram, até que, da janela da minha infinidade, a espreitar o Tejo, sobressaem as letras que, naquele rio, navegam como golfinhos. Valham-nos isso, porque deles só sobram as críticas de quem nada mais faz e essas, mal feitas, preenchem o seu tempo perdido.
- O gajo agora é isto – dizem baixinho
- O que ele queria sabe quem quiser prestar atenção…
- O que está mal… etc.
Enfim, haverá sempre quem se disperse na crítica e não sobre tempo para mais nada.
Mas, O que eu queria mesmo dizer, melhor, O que queria mesmo escrever era O meu pensamento sobre O que leio, sobre O que por vezes escrevo e que também abrange O estado crítico que acabo de mencionar… pois é, é que como eu há muitos que depois de atirarem as pedras, ou não fogem para lugar seguro e nem capacete de protecção usam e depois, as coisas acontecem na porta do vizinho até ao dia que batem na nossa porta.
O destino, O raio que O parta, desse malandro tempo que, na memória, se perdeu e quis pregar mais uma partida. Brincadeirinha.
Brincadeirinha O caraças! Este é mesmo O mundo real, O homem natural e a O tempo das línguas afiadas, todo o resto são coisas da imaginação e O que mais quisermos.
O eterno nem na crónica ficará. O caraças é que fica, pois qualquer gajo rabugento que refile fica desde já avisado que são só permitidas frases a começar com O e de preferência que acabem a dizer bem. Vá lá, façam-me O favor!
O.
O meu.
O meu obrigado.



Escrevo…para libertar as personagens que não consigo Ser!
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http://catalogoluademarfim.blogspot.pt/

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Autor
Paulo Afonso Ramos
 
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Enviado por Tópico
Valdevinoxis
Publicado: 30/04/2009 22:52  Atualizado: 30/04/2009 22:52
Administrador
Usuário desde: 27/10/2006
Localidade: Aguiar, Viana do Alentejo
Mensagens: 2118
 Re: Crónica do O
Ó faxavor!!!! E eu praqui a apensar que este O ia ser para maiores de 18!

Bom, Paulo, muito bom e com muito sentido.

Valdevinoxis

Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 30/04/2009 23:40  Atualizado: 30/04/2009 23:42
Colaborador
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: Crónica do O
Paulo,

Esta sua bela crónica tem O condão de fazer as mentes oscilarem seus pensamentos na tentativa de Os descernir melhor.
Encontramos nos nosso quotidiano O exemplo das mais variadas conversas, sem contexto a qualquer pretexto.
É vulgar ouvirmos O que aquele fez, O que aquele comprou, O acto que O indivíduo teve, O estúpido que ele é, O brutamontes, O parvalhão, O filho da .... e nunca olhamos para O que somos, para O que fazemos, para O gesto feito, mas jamais assumido.
Bela crónica com que nos presenteou, O texto...

Abraço (O abraço)