Poemas : 

Pai abrace-nos...

 
MEU PAI HOJE EU COABITO COM PERIPÉCIAS
E NO DESERTO DE ONDE TE EVADISTE
AGORA CAIEM CHUVAS DE LÁGRIMAS
SOBRE TEUS FILHOS, COMO NUNCA DANTES

NOS HORTOS VERDES POR ONDE PASSÁVAMOS
AGORA SÓ VÊEM NOSTALGIAS DE AMORES ESFRIADOS
E MINHA BOCA AINDA FAMINTA EMANA CANTOS
NOS QUAIS OCULTO TUAS DORES NOS FERIADOS

SOU EU, O TEU FILHO CAZEVI DAQUELA TARDE
DA TARDE DA ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO
XX ONDE SALVASTE MEUS CALÇÕES DOS MARGINAIS
QUE DE LÁ PARA CÁ, NUNCA MAIS OS VI TAL E QUAL A TI

SOU EU QUE BRINCAVA COM O MACACO
ENCARCERADO NAQUELA HORTA DA CATUMBELA
ONDE ME LEVAVAS SEMPRE ÀS MADRUGADAS
DEPOIS DE DEGUSTARMOS O PIRÃO DE FUBA MÁISE.

SOU ÀQUELE FILHO PARA QUEM SEMPRE DIZIAS
NÃO CHORE, PORQUE O HOMEM SÓ LÁGRIMA
E, AGORA, CÁ VOU SEM PRUMO NESTA CISMA
TÃO DESBARBADO COMO SEM RUMO AS TIAS

JÁ NÃO ME DÁS ÀQUELA BANANA-PÃO
NO RIO CATUMBELA, ONDE TU
APANHAVAS O PEIXINHO CASTANHO
QUE EU DEPOIS ARREMESSAVA AO RIO, DE CORAÇÃO…

E AGORA! ONDE ESTÁS, MEU PAI,
ME DÓI, ESTA LEMBRANÇA CEGA…
ESTE QUADRO SEM FOTOGRAFIA PARA TOCAR…
ONDE ESTÁS MEU FORASTEIRO PROGENITOR

VÁ, ABRACE AO MENOS MEUS SONHOS
E MEUS TORMENTOS JÁ DE SI FRUSTRADOS
DAS SAUDADES DAS ESTRADAS
DOS BAIRROS NUNCA DANTES ILUMINADOS...



FAÇO DOS PEDAÇOS DA MINHA VIDA UM POEMA QUE RECONSTROI OS MEUS SONHOS DESFEITOS...

 
Autor
Joséhonório
 
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