Equilíbrio
Lamento a imagem deformada que foi dada à minha geração da sexualidade humana. A ruim digestão que se era forçado a fazer dessa matéria e que, mais ou menos profunda, deixou em nós marca.
Como tudo nessa área era pecado, as alusões que a relacionavam com o todo da criação não tinham força bastante para neutralizar a ideia de que a sexualidade era de facto obra do demónio.
O tempo passou. Novos ventos sopraram e a sexualidade deixou de ser tabu, para absolutamente se desnudar, resvalar para o vale tudo e se converter em espectáculo de todas as circunstâncias.
Nunca estiveram. Mas continuam a não estar fáceis para os educadores as coisas nesta matéria. Não há maneira de se vislumbrar equilíbrio. Ou tudo é para proibir porque tudo é obra do diabo, ou tudo é para ser feito e quanto mais despudoradamente melhor.
Obvio que a televisão (refiro-me às cadeias de televisão em geral), cuida de estar nas linhas da frente, tirando o partido que pode do espectáculo que a sexualidade lhe faculta, pois que assim aconselham os cânones dos autores e cineastas de vanguarda, sem peias na mente, porque afinal o negócio é o que está a dar e libertação é palavra/argumento que justifica um mundo de coisas.
Tenho para mim a sexualidade como um dom complexo e precioso (talvez melhor, simples e precioso), sem o qual o homem e a mulher simplesmente não seriam. Direi que informar sim, é urgente, até para pouparmos os que agora se abeiram da ribalta da vida dos traumas que a geração dos mais velhos carregou. Mas deformar não.
Saber-se que a sexualidade é para ser assumida e vivida e que não se confina à mera genitalidade, claro. Mas aviltá-la, pervertê-la, convertê-la em espectáculo, inclusive para criança ver, tenho para mim que não. Como, seja no plano que seja, o equilíbrio não é fácil!
Antonius