Assim é a Vida
Grita até não teres voz,
Dá som ao mudo de ti.
Não é suposto vivermos assim.
Grita até à rouquidão
Mesmo que não saibas porque gritas.
Gritam também os recém-nascidos
Sem saberem a razão do seu grito.
Dá-lhe voz até na pintura
O pintor emudecido.
Não somos feitos para calar.
Reprime-te mais
Até gritar o teu corpo;
Se o calares também
Outras partes de ti falarão.
Quero embalar-te (como o faria a mim),
Confortar-te de outro conforto
Que só a ti to podes dar.
Hoje estou assim:
Impetuoso.
O amanhã notícias me trará
Ou envolver-me-á em amnésia
Do que aqui escrevo presente.
Vejo de outra forma
Talvez também passageira,
Pois só não passa
O que trago na bagageira.
Comecei no outro dia as arrumações.
Rompe com a vida,
Ela não é compromisso:
Nada é do que lhe chamares.
Teus conceitos para ela são amarras.
Ou então
Vivo novamente a auto-ilusão
E ela nada mais é que tudo
(Sem rasuras) o que lhe chamas!
Não importa
Nada importa
Mesmo esta visão imposta
No lento e cansativo desespero
De uma busca extenuante
De algo ou outra coisa
Que pode bem não existir.
22/01/2007