Pontas Soltas
O que escrever
Com tudo isto
Que me passa pelo cérebro?
Estou farto de todas estas drogas
Serotogénicas, hipnóticos, etc.
Saturado da sua inacção
E elevada proclamação.
O que me esgota
É a esperança no amanhã!
A minha alma não se renova
Como o fazem as de crianças.
Decerto possuem revitalização,
Pedaços de alma estaminais
Que a renovam
Após dores brutais.
Fixo-me na ideia monástica,
Fugir de tudo, do nada.
Deixar a vida plástica.
Há ideias recorrentes,
Insistentes, cansativas.
Há pensamentos trovejantes
De tempestades inexistentes.
Há também compulsões, projecções,
Identificações e outras,
Que não me lembro.
Há o desespero
De feridas mordidas
Que se impõem
Frente a qualquer coisa.
E há dores.
Oh! Que não se explicam.
Sou eu um pedaço de alma perdido?
Um dejecto abjecto
De uma propulsão estelar?
Onde me encontro?
Estou farto de buscar
Sem encontrar
Nada que se lhe assemelhe.
Ou a falta que sinto
(Não sei bem do quê)
Vem de um gémeo falecido
Ainda no ventre materno?
Posso também ter na minha vida
As estações trocadas.
No entanto ainda não passou o inverno.
Um diário!
Uma solução de despejo.
Vale a luta
E toda esta vida filha da puta
Vomitada nele?
Insurge-te de uma vez.
Gosto de extremos:
Temperança é invalidez.
Desloca-te de extremo a extremo
Ou extingue-te,
Cessa!
Quantas vezes to pedi?
Quero voltar,
Está permeado esse desejo em mim,
Mas nem sequer sei de onde vim.
Sou um turista perdido,
Amargo e mau amigo.
Tenho a tua tinta
Marcada nos interdígitos
Das minhas impressões.
Tenho-te também deslocada,
Mal colocada.
Assim não és!
Só mancha
Que o podias ser
De outra qualquer.
14/12/2006