O gira-discos está quebrado!
Vês o disco a girar?
Parece um som psicadélico
Com um vazio no centro desequilibrado
Oscilando como o candelabro a deslizar
Pelo vento que sussurrando
Não sossega de chorar...
Estou...
À espera que a solidão dos nuncas
Amanheça à espera do futuro que fui
Nos sonhos dos que me amaram sem condição
Tempo ante tempo
Dedos abraçando mãos
No silêncio
No teu silêncio... de me escutares...assim...
De me escutares... ali...
Estes meus pensamentos...
Numa decifrável ilusão..
Estou... doente!
Dolente do meu pensar que morreu
A tentar compreender o infinito
Que há no caos das coisas finitas
Do universo que cada um traz.. colossal...
Dentro da sua mão...
Ao pensar compliquei o simples
Ao amar cristalizei o pensar
E feri olhos no caminho
Sem saber onde... para onde olhar
Transformei a inocência em armadilha
E os passos suaves e esvoaçantes.. em opressão...
Por me embrenhar nas silvas da vida...
Que ficam além, na estrada da confusão...
E enquanto me pensava livre
Não vi as correntes que me prendiam
Me agrilhoavam às celas de memórias escondidas
No baú dos dias em que todos estavam acordados comigo...
Lado a lado como num sonho de criança...
Uma festa em casa da minha avó...
E os amigos, os familiares, os primos, os tios, o meu avô...
Todos respirando e falando... tão bem.. pareciam vivos...
Hoje... a maquinaria está suspensa...
A agulha e o braço da canção já cessaram de movimentos
E o gira-discos.. está mesmo partido... não há dúvidas...!
E na companhia dos discos riscados
Já só ficam os dedos amontoados
Com as contas feitas e os projectos abandonados
E as lágrimas fugidias...
Paralelas a meia dúzia de poesias..
Que jazem... no frio da sala...
Ali... na mesma mesa solitária
Onde se acumula o pó em fatias
E fogachos de imagens retratadas
Do tempo em que nunca eu pensara na vida
Do tempo... em que o tempo me não doía
Porque conhecer... era desafiante..
E a dor... uma ideia ausente...
Colega de quarto da utopia...
Escutando...
Num gira-discos inteiro...
Música inteira...
No tempo em que o sorriso...era inteiro...
E ninguém chorava por olhar as fotografias.
Pedro Campos.
Pedro Campos.