E diz:
Glosa
MOTE: As nuvens mostram tristeza,
Na cidade de Paris...
Como o sol mostra riqueza
Em Portugal, meu país.
Corta-se-me o coração
Ao pensar que passo a vida
numa casa construída
De tábuas e papelão;
Penso na minha nação
E na vida camponesa,
Na luz clara e na limpeza
Do céu do meu Portugal,
Porque nesta capital
As nuvens mostram tristeza.
Aqui vende-se a mulher,
Seja solteira ou casada;
Em plena rua é beijada
Por quem dinheiro lhe der,
Seja um trapilha qualquer,
Um burguês ou um juiz.
Ela é a própria que diz:
"Se me queres, dá-me tanto"
Isto vê-se a cada canto,
Na cidade de Paris.
Num automóvel vão quatro,
que se beijam por recreio,
Seis, oito além num passeio,
Tal qual como no teatro.
Por isso amo e idolatro
Sempre a mulher portuguesa,
Que mostra, com singeleza,
As suas naturais cores...
Como o Abril mostra as flores,
Como o sol mostra riqueza.
Nos próprios irracionais
São naturais os ciúmes,
Ao passo que os costumes,
É que não são naturais.
Cores artificiais...
Ouro, brilhantes, rubis...
Não poderão tornar feliz
Quem goza beijos comprados;
Eu antes os quero dados
Em Portugal, meu país.
Este livro que vos deixo... (1983)
António Aleixo
António Fernandes Aleixo
(✩ 18/02/1899 — † 16/11/1949)
Autores Clássicos no Luso-Poemas