Um velho assobiava à esquina
um agudo assobio,
à esquina dum prédio cinza,
cinza gasto,
vazio, velho.
Assobia para alguém
do outro lado da vista,
assobiava sem resposta.
Não sei bem para quem,
não deu qualquer pista...
O assobio saia da boca
velha desse velho,
que para alguém assobiava,
sem ninguém responder.
Dos pulmões ao moldar do som pelos lábios.
O assobio da sua prisão fugitivo
calcorreava o ar ondulante,
a cada instante,
vivo.
Até ao infinito do caos o parar.
O assobio foi ter
ao ouvido de alguém do outro lado
da vista,
sem o saber
coitado...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.