Contos :
QUANDO A VELHIÇE CHEGAR…
CONTO COTIDIANO
Deito e o sono não vem. Perco-me em pensamentos.
Lembro do futebol que terei de jogar amanhã, defendendo o time da firma.
Ah! Como eu gostaria que não houvesse...
Um time de gordos, pesadões! O único interesse é a feijoada após a partida, que ganhem ou não. Se ao menos houvesse o incentivo de ser a feijoada, ofertada como troféu ao time vencedor... Haveria uma esperança!
Inquieto... Levanto-me, desço e vou até a copa.Tomo água, e ouço uma tosse insistente, que vem do quarto ao lado do meu escritório. São os meus pais,que estão morando conosco, por está a casa em reforma.
Estão bastante idosos, para suportar os desgastes de uma construção.
Vou até eles... Abro a porta de mansinho... E, vejo-os agarrados um ao outro.
Tão velhinhos, o tempo deformou suas feições. Um dia – lembro bem – foram tão belos!
Como minha mãe era formosa... Que cabelos negros e viçosos!...
Uma vasta cabeleira lhe emoldurava o rosto; corpo esguio, cintura fina – quando pequeno, a acompanhava as compras, e os homens a olhavam... Eu ficava muito enciumado –, a sua voz, era daquelas... Que procuro hoje, e não encontro: doce, cheia de ternura – voz de criança – passava uma paz... Um desejo de ficar coladinho a ela...
Meu pai, homem forte. Gostava de correr, de se exercitar. Alto, moreno. Louco de amor por minha mãe. Nunca os ouvi discutir, estavam sempre juntos, e nós, os seus cinco filhos, unidos uns aos outros.
Hoje, os meus irmãos estão distantes, muito distantes... Só eu, moro próximo aos meus pais. Parado, em silêncio... Olhando para eles, vejo que o tempo desgastou seus corpos, suas feições, mas o amor que sempre os uniu, permanece... Ficou mais forte!
Penso... Quando chegar a minha hora.
Quando do meu corpo, o viço acabar; quando quem amparei, precisar me amparar; quando os meus cabelos se fizerem ralos... Minhas pernas seguir um passo arrastado; minha voz emudecer, e os meus olhos turvarem... E, a beleza da vida eu não mais poder ver...
Que pena!... Todas as experiências adquiridas ao longo dos anos, serão só minhas... Aos jovens restará viver as suas próprias experiências.
Esther"Rogessi".Conto Cotidiano.Categoria:Narrativo.Luso-Poemas.23/04/09.
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