Poemas : 

Olhando o mar, sonho sem ter de quê

 
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.

Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?


Fernando António Nogueira Pessoa
( 03/06/1888 — 30/11/1935)
Autores Clássicos no Luso-Poemas

 
Autor
Fernando Pessoa
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/04/2009 20:19  Atualizado: 21/04/2009 20:19
 Re: Olhando o mar, sonho sem ter de quê
O mar sempre nos faz viajar. Nos sonhos, no sentido da própria vida...
Muito lindo!