Conheço quem me faz rir
Na patética busca do equilíbrio
Entre a carne e o ser
A carne quer carne
O espírito sonha
O homem sofre
Seduzido pelo desejo
Vagueia em labirintos compactos
Na esperança de saber quem é
Perder-se na esteira do tempo
Esquecer-se das razões
Que o fizeram parar
De pensar
E ousar
A carne quer carne
Como o espírito quer vida
Eterno sonhador
De sorriso franco e aberto
Em ténue equilíbrio
Entre a alma, da alma
E a alma do corpo
Insaciável na busca da ilusão
Que alimenta o sentir
Desassombrado e real
Em assomos de virtude
Rompe a âncora lamacenta
Lufadas de espuma límpida
Embalam, queimam, quebram
Horizontes azuis indolores
Despontam…Convidam
Caem as trevas
Descobre a paz
Ao alcance de um dedo
Amor
Basta amar
Sonhar
Basta querer
Plana montanhas
Voa no limite
Incólume á carne
Egoísmo, inveja, injustiça
Adormece
Abalado pelo dia
Acorda
A vaga é alta
Âncoras nascem
O homem oscila
Sorvendo aromas
Secando sal
Não, não pares
São as dores do caminho
São os dias de parto
É o preço da liberdade
Comprada a pulso
Nas encruzilhadas da vida
E o homem chora
Pela raiva, que faz calar
Nos sussurros da carne, que ri
Pelos gritos do espírito, que vive
Conheço quem me faz rir
Sempre o conheci
ruisantos ( 1996)