MORTE DE UMA ILUSÃO
Por: Claraflor de Maio
Tuas mãos cravadas em meu pescoço
E o meu ouvido preso ao teu apelo...
Restou-me a paz desse travesseiro
Em quem ainda posso confiar plenamente.
Quanto pagarei a esse amor
Que não deixou lágrimas ou sorrisos?
Deixou apenas uma saudade
Da minha velha parte de mim,
Que morreu nos braços
Das tuas pupilas.
Vou pra tão dentro
Desses olhos calmos,
Vejo-te sorrir das coisas bobas,
Que envenenaram-me o coração...
Morro feliz!
Levando a tua breve existência
No que restou de nós duas;
Morro triste!
Por ver realizado o último desejo:
Vejo-me em teus olhos
Acompanhando meu último momento,
Levaram-me ao vazio
Feito dentes-de-leão,
Perdidos no vento da manhã de sol
Que brilhou o dia seguinte,
Que não esqueceremos
Mesmo sendo pó.
Levarei a manhã de sol florida
Com seus ipês amarelos e rosar,
No que ainda restar
dentro desse outono em meu peito, calado,
Que partiu levanto também a imagem dos teus olhos
A velarem minha ilusão.