Tenta agora, chama,
ainda que a musa nunca te oiça;
ofende-a, pica-a...
grita o nome dessa dama
feita de loiça,
que a ti não se dedica.
Não a esperes de graça,
sem nada dares em troca.
aproveita quando ela passa,
quando à tua beira se desloca.
Dá-lhe um molhado beijo na boca
à lasciva e doce e devassa;
e também assim ela te toca,
te ilumina e abraça.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.
com a tua musa não pagues com dinheiro, mas com o corpo...