Como não me sentir grato?
Grato por este corpo que tanto me permite aceitando que já não me permite o de outrora.
E por todos os outros corpos que o meu afiam, devia estar eu grato?
Não deverei eu aceitar as dificuldades da vida com maior solenidade que as vãs alegrias?
Se dos fracassos vêem as verdadeiras lições porquê perder tempo a lamentar um presente que não se pode evitar? Porquê fugir das tristezas e dos conflictos quando são eles as portas do futuro?
Sorrio enquanto, morninho por dentro, penso em todos aqueles que amo e sei amarem-me. Agradecido por todos eles e mais ainda pelo prazer que me causam acabo a pensar que são aqueles que nada sentem por mim os mais capazes para me ajudarem a alcançar aquilo que preciso. O Amor Agape e a priori que não precisa de passado ou futuro para Ser. Apenas É. Aceita. Partilha. Agradece.
O ego guarda memórias doces e manipuladas, quando estas deviam ser lições e alertas para o presente,nunca amarras dum passado irreal, mas que ainda assim, se teme perder.
Esfrego o meu terceiro olho e afugento quaisquer maus espiritos com mais uma dose de fumos sagrados e deixo que o ritmo tome conta de mim.
Como não estar grato por todas estas mortes quando são elas que criam o espaço para as novas vidas?
O atrito que nos impele a ser e a querer mais deixa um rasto de sangue atrás de nós e alguns choram o que perderam não descobrindo assim o que poderiam ganhar.
Recorro ao meu passado e desenterro os meus mortos só porque estava com saudades. A conversa nem sempre é fácil mas acabo sempre mais vivo e eles mais mortos. Agradeço-lhes o sangue que derramaram por mim e sei que vou tentar valer o sacrificio.
É engraçado quando é a merda que fomos que nos ajuda a ser alguém diferente.
Alguém que mais que aceitar a Vida consegue ser grato por ela. Toda! A Vida!
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.