Prosas Poéticas : 

... traz-me!

 
Com olhos cobertos de lágrimas olhaste-me a alma e pintaste-a com todas as cores do arco-íris, sabias que me ia embora e por muito que te custasse sabias que era a decisão certa.
Não soube como partiria mas sempre tive plena consciência de que um dia teria de partir, doía às vezes quando me espreguiçava na rede do jardim e olhava o céu, pensava que um dia não poderia ali estar , sabia que um dia não poderia apelidar este jardim como meu e mesmo assim, mesmo assim aproveitava o melhor que podia as coisas que ainda eram minhas, até de ti eu me aproveitava e era feliz, sou um fracasso.
Quando me viste fazer as malas como coração aos saltos, uma pressa maior que a distância que sempre estava entre nós, calaste a dor e tudo o que apetecia dizer, o silêncio cobriu o quarto, a csa, os espaços em volta e tudo o que era meu deixou de o ser, os teus olhos encheram-se com esse bando de dias que inventamos ser nossos, os teus cabelos perderam-se na imensidão dos momentos falsos que te entreguei, tudo deixava gentilmente de ser meu...
Saí com a enfermidade dos dias, verguei-me na entrada com o peso do que já fora, solucei umas quantas palavras de despedida e parti, coloquei as malas no carro, tu acenaste e bateste a porta com força, fechaste-me na rua que escolhi...

... traz-me de volta!


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
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