Mãe...
Quero me lembrar de um carinho teu, de uma palavra de incentivo...
Procuro tua meiguice e não a encontro...
Vasculho as poucas e boas lembranças, meio a uma infância sofrida, às mais remotas e nelas não encontro o teu amor!
Sempre me mostras fotos, onde eu estou bem vestida... e dizes: estás vendo como eu cuidava bem de ti? Oh! Mãe, o zelo aparente é para os de fora...
O que eu queria ter recebido era algo tão diferente...
Os meus cabelos crespos, nas fotos, estão bem presos. Ah! Que cuidado que tinhas para não mostrares quão eram carapinhas... Mas, que impaciência para penteá-los, como me doía... Quantos puxões!
Tu eras tão linda mãe... Branca, afilada, cabelos negros, muito cheios e ondulados...
Porém, os meus cabelos são iguais aos do meu pai, um afro-brasileiro.
És tão distante, tão fria... Sinto-me órfã, e creio, que quando Deus te chamar para Si, não fará muita diferença... Eu nunca tive a ti!
Que te fiz? Não querias que eu nascesse? Não fui desejada? Que culpa eu tenho de ter nascido?
Como és diferente no trato com o meu irmão mais novo, sempre tiveste muito amor por ele, e nunca fizeste questão de que eu e os meus outros dois irmãos víssemos essa diferença.
Sei que tiveste uma vida sofrida, foste mal amada, incompreendida... Mas, mãe! Dá-me um pouco do que não tiveste!... E, assim, serás maior que o ódio, que a amargura, que a dor!
Não me dês essa herança!...
(Na minha vida eclesiástica, convivo com pessoas com inúmeros conflitos n'alma. E me inspiro com algumas das experiências, que a mim chegam...)
Esther"Rogessi",Carta: Órfã de Mãe – Viva.Categoria:Narrativo.Mural dos Escritores.http://muraldosescritores.ning.com/group/epistolas
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