(Este é um conto que eu escrevi para os meus filhos, há muitos anos...)
O SR. SOL E A D. CHUVA
Um dia o Sr. Sol e a D. Chuva lembraram-se de implicar um com o outro. Acontece que cada um teimava em dizer-se mais importante que o outro. E a discussão ia muito acesa:
Sol - Ora, D. Chuva, enrole-se lá nas suas nuvens cinzentas, que mais parecem roupa suja, e deixe-se de disparates! Imaginem! Querer comparar-se a mim, o Astro-Rei!
Chuva - E porque não, sua brasa escaldante? Sou sim, mais importante que o Sr. Sol! Basta dizer que não haveria vida sem mim!!
Sol - Ai não?... E então sem mim? Eu ilumino o Mundo, aqueço os velhinhos, faço desabrochar as flores e alegro o meninos e as meninas, que tu afugentas para dentro de casa e que eu chamo, para brincar ao ar livre! (Era tanta a raiva, que até passou a tratá-la por "tu", sem meias reverências...)
Chuva - (no mesmo tom azedo) Os meninos e as meninas sabem que a vida não é só brincar ao ar livre! Na escola elas aprendem a importância da água na Terra: Eu rego os campos que tu secas, faço germinar as sementes adormecidas, alimento as fontes que matam a sede a todos os seres vivos, enfim, as minhas filhas gotinhas de água mantêm o Mundo viçoso e fresco!
Sol - Vejam só, que presunção! A vida na Terra gira em volta de mim, que faço os dias, as noites e as estações do ano, para que tudo se renove eternamente! E mesmo quando tu, escondida na tua roupa suja, ameaças cair, eu continuo lá no alto a brilhar e a garantir luz e vida!
Chuva - Cala-te lá, seu fanfarrão! Olha, olha, faz as estações do ano! Grande coisa! No Inverno ficas tão doente, que nem força tens para aquecer meio Mundo e as pessoas morrem de frio. No Verão pões os teus raiozinhos endiabrados à solta e ai das pessoas, que morrem de calor, e ai dos prados, que ficam desertos, e ai das florestas, que começam a arder! O que lhes vale sou eu, que sempre que posso lhes acudo! Que é por mim que eles clamam nessas alturas, não é por ti!
Sol - (vermelho de raiva) Oh, D. Chuva, já me está a fazer perder a paciência! Sua maria-das-pernas-compridas! Sua ignorante convencida!!
C,`hu''v,´'a, - (a dardejar chispas de gotas) Ó seu corisco flamejante! Sua bola de fogo sem miolos!!
Nisto os ânimos exaltaram-se tanto que o Sol começou a brilhar, a brilhar... e a Chuva começou a cair, a cair... e de repente!...
Adivinhem o que apareceu, mesmo no meio dos dois...
Um arco-íris, (coisa nunca vista!), luminoso, altivo, cheio de cores, tão lindo, tão lindo, que o Mundo cá em baixo parou para o ver... e até o Sol e a Chuva se esqueceram de lutar um contra o outro, maravilhados...
Mas, quê! Mal eles pararam de brilhar e de cair, o arco desapareceu!
A Chuva e o Sol encolheram os ombros, sem perceber nada, e voltaram à contenda... então, milagre, o arco voltou!... Pararam, de novo maravilhados... Mas, ora, desapareceu outra vez! Agora é que eles não perceberam nada! Espantados, entreolharam-se e, de mansinho, voltaram a tentar construí-lo: O Sol entrelaçando os seus raios brilhantes nas gotinhas transparentes da Chuva... e aconteceu de novo!! Um toque mágico de pincel de artista pareceu pintar o Arco-íris sobre a Terra, agora mais luminoso que nunca! E os dois entenderam finalmente...
Sol - (envergonhado) Oh, D. Chuva, acho que somos dois patetas, para aqui a discutirmos um com o outro! Afinal ambos somos igualmente importantes! As nossas missões completam-se uma à outra!
Chuva - (mansinha) É verdade, Sr. Sol... Vamos fazer as pazes?...
Sol - Vamos, vamos!
Chuva - E olhe como é lindo anel da nossa união!...
E disse o Vento que passava, ele, que viaja por todos os cantos do Mundo e sabe muitas coisas:
- O Arco-íris será sempre o símbolo da aliança de Deus com os Homens e do Sol com a Chuva!...
Teresa Teixeira