(Para LMS.)
A Morte dia a dia retoca
Sobre teu corpo, inexorável aquarela;
A ti dá brilhos ausência de brilhos
E pinta-te nos olhos sombras amarelas.
Tua voz e teu pulso cada vez mais se calam,
Menores se tornam e mais fracos nos falam;
A pele fria denuncia-te o destino:
Tua energia te foge dos órgãos falidos.
Veda-te as entranhas do próximo futuro
Uma massa neoplásica imponderável;
Sobre a Terra te acabas, amigo,
Prestes estás a conhecer o Inefável.
Sinto-te farto das mãos que te apalpam,
De injeções de esperanças equivocadas;
Sofres demais, sei que é uma lágrima
Teu sangue que pinga da agulha trágica.
Ah, são tantas as sondas !
Tantos tubos incômodos, tantos líquidos
Escorrendo-te às gotas pelas entranhas !
Queria que soubesses que me senti inseguro
Quando, rebelde, arrancaste tudo
E depois perguntaste, com os olhos falhos:
“Para quê isso, faz sentido isso ?”
Não sei bem a resposta, e a pergunta devolvo
A ti, que logo saberás mais um pouco
Do que nós, homens grandes ignorantes,
Que inutilmente ousamos desafiar tua morte.
Somos todos sobreviventes provisórios;
Temos todos nossas sondas e nossas lágrimas;
Vamos todos morrer: a diferença é a hora
E a maneira pior ou a melhor maneira.
Valerá a vida, a vida pela Vida ?
Para quê isso, faz sentido isso ?
Nossa resposta é “sim”, pois nos mantemos vivos,
Mesmo sem atinarmos com o sentido que sentimos nisso.
Eu me assino na areia fina dos dias, escrevo minhas letras poemas que são plumas perdidas na densa atmosfera das eras.
Não assino versos eternos:
eu me contento com rimas que sirvam para agora. Almejo prosas que encantem, uma escrita-roupa que nos vista