Brincando no Escuro
(poema fúnebre)
Lacro junto ao meu silêncio,
Minhas pupilas não gentis.
Meu corpo apertado entre concretos,
Já não é o mesmo de um tempo atrás.
Penso que nada mais exite,
Que morrer, não é tão fácil quanto pensei.
Aperto mais e mais as pálpebras. O que tenho?
Faces que se transformam em montros.
Sinto meu corpo metamorfosear-se:
Da vida, a pedra do caminho.
Da vida eterna, a alma
Congelada em fogo lasso.
Tento abrir meus olhos gentis,
A luz solar me é negada pela fadiga.
Da lucerna, uma visão.
A ilusão das visões dos sonhadores.
Nesta escuridão mortífera,
Vultos gelatinosos sofrem mudanças.
Agregados, impostos pela razão,
Anunciam o fim do presságio.
Os Rastejantes
( Poema fúnebre)
Só os rastejantes sobreviverão,
Entre o fogo da guerra e os icebergues polares.
Viverão os rastejantes monótonos,
Os monstrengos da tua prisão.
Farão parte da literatice,
Com corpos lívidos e sem amor.
Vivendo a liberdade escabrosa,
Navegando no ácido vômito da carne.
Terão palavras farpas mecanizadas,
E de sentido farto-ardiliso.
Com cheiro matricídio,
Recamam com a morte os que vivem.
Com lamúria vasca,
Crepúsculo sobre o jazigo.
Refletirão corpos apodrecidos,
Pelos vermes que rastejarão.
Coincidência ou não,
Estes vermes tragicamente rastejantes,
Repousantes repetentes,
Tem a tua face.