ATÉ JÁ MEU AMOR!
Eu sou José! És Maria!
Sou Roma! Tu és Pavia!
E não fomos feitos num dia.
E nem Nero em sua loucura
Inflamando a sua lira
Nos tomou nossa estatura.
Eu sou Marte, tu és Vénus
Eu combato, tu provocas
Mas ambos somos delírio
Em sempre eterno idílio.
E os humanos, em suas tocas
Nos invocam em suas trocas.
Eu sou o Sol, tu és Lua
Eu brilho, e tu estás nua
Mas ninguém que te olhe
Numa noite de luar
Negaria o teu brilhar
Em genuíno luminar.
Sim esse teu alvo brilhar
Que eu te dou sem vacilar
Que eu te dou sem me dar
Discreto, nos teus antípodas
Mas sempre te iluminando
Mesmo nunca te tocando.
Eu sou Água, tu Azeite
Eu sou a carne, tu és leite
Mas quem em pleno juízo
Negaria que é preciso
Leite e Carne, água e azeite
Cada um a seu momento?
Eu sou Lençol, tu és Pele
Eu sou Ela, tu és Ele
E que ele ou que ela
Não deliram com o cetim
Da pele ou do lençol
Os dois juntos no Amor?
Eu sou Flor, tu és Semente
Eu sou Alma, tu és Gente
Qual a gente que não é semente
Que se faz flor com a Alma
Porque o espírito a encarna
E na carne se torna gente?
Eu sou Rio, tu és Margem
Limitas minha passagem
Mas eu moldo-te com o tempo.
Eu sou Vento, tu és Sólido.
E em rajadas te derrubo
Não te segures ou vergues.
Eu sou Real, tu Miragem
Eu sou Corpo, tu Imagem
Não é o corpo miragem
Quando real a imagem
Se mostra, se materializa
Àquele que a idealiza?
E o ser trémulo, lentamente
Leva a mão ao corpo quente
Mal o toca, mal o sente
Sentindo a explosão eminente
Da emoção e da expressão
Do amor, que por ele sente.
Eu sou Favo, tu és Mel!
Eu sou Doce, tu és Fel!
Oh, quem se importa com o fel
Em antecipação do mel
Da consumação da paixão
Das brasas do coração?
Eu sou Noite, tu és Dia
Eu sou estrela, tu és Guia
Qual a estrela no firmamento
Que na noite não é o guia
Que desfaz as trevas em luz
E a noite se torna dia?
És Centauro, eu sou Valquíria
És Chumbo, eu Alquimia
E alquimia te derreto
Se me ousas enfrentar
Com a dureza do teu peito.
Não, não ames desse jeito.
Eu sei que estamos ligados
Em opostos, conectados
Do alto atormentados
Mas não ouses magoar
Quem já não tem que chorar
E cuja vida é lutar!
Eu estou aqui, tu aí
Ambos somos humanos
Ambos estamos desirmanados
Ambos longe, separados
Unidos por forte torrente
De quem se ama intensamente.
Destino cruel, o nosso
Tontura de Amor impregnada
Ternura é faca afiada
Com que nos cortamos os dois
Em frustração, dor de Amor
Desejada, invocada, consagrada com ardor!
Até já, meu amor!
Ana C./Sob_Versiva
01 de Abril de 2009.