Vereador Diógenes Baségio, presidente da Câmara Municipal;
Senhor Décio Ramos de Lima, chefe do Gabinete e representante do prefeito municipal, em cujas pessoas saúdo os demais integrantes da mesa diretora dos trabalhos;
Pintora Klênia Sanches, autora da capa do nº. 6 da Água da Fonte, e padre Paulo Augusto Farina, entrevistado desta edição da revista;
Senhores acadêmicos e senhoras acadêmicas;
Senhores e senhoras convidados;
Quem deveria falar em nome da Academia Passo-Fundense de Letras nesta noite, aqui não pode estar presente. Problemas de saúde em pessoa de sua família impediram nosso confrade Marco Antônio Damian de comparecer a esta sessão solene e fazer-se órgão desta Academia. Apenas ontem, à tarde, comunicou-me do impedimento.
Entre exigir esforço de algum de nossos muitos confrades em produzirem um pronunciamento de última hora e assumir essa responsabilidade, optei pela segunda alternativa. É um ônus de quem sempre quis presidir esta casa e o conseguiu, com a graça de Deus e o apoio dos seus pares.
Quando, na noite de 7 de abril de 1938, um punhado de idealistas liderados pelo italiano Sante Uberto Barbieri decidiu fundar esta casa, é possível que nem imaginassem a importância da iniciativa. Modestos, em vez academia, optaram por criar o Grêmio Passo-Fundense de Letras.
Inseriam-se num programa político no qual a nacionalização do ensino e a divulgação da língua e da literatura nacionais exerciam um papel preponderante. O mundo dilacerava-se, pois nações que chegaram tarde à divisão imperialista dos mercados e fontes de matérias primas pretendiam conquistar espaços à força, através do nazi-fascismo.
No Brasil, não tínhamos unidade lingüística, ainda. Aqui mesmo, em Passo Fundo, proliferavam escolas em dialetos trazidos por imigrantes mais ou menos recentes. Brasileiros de nascimento, mas não falando a língua do país, faziam questão de dizerem-se nacionais das pátrias de seus pais, avós e bisavós. A Academia Passo-Fundense de Letras surge nesse meio histórico. E se consolida, ao contrário de outras iniciativas congêneres que não prosperaram. E os fracassos superaram os êxitos.
A criação daquele pugilo de idealistas consolidou-se porque Passo Fundo já apresentava um passado de iniciativas culturais exitosas, desde o Clube Amor à Instrução, na década de 1880, e sua biblioteca reunindo mais de mil volumes, à disposição dos passo-fundenses, passando pelas diversas iniciativas de cunho teatral, pelos jornais – e aqui há de se destacar nossos dois diários circulando, ininterruptamente, até hoje.
Devemos lembrar a verdadeira revolução na educação vivida por Passo Fundo, entre 1920 e 1930, sob a liderança de Nicolau de Araújo Vergueiro, tão bem historiada por nossos confrades Welci Nascimento e Santina Rodrigues Dal Paz no livro “Vultos da História de Passo Fundo”, que, ampliado, sairá em segunda edição nos próximos meses.
O então vastíssimo município de Passo Fundo que, no ano de 1921 dispunha de apenas 7 escolas com uma freqüência de 161 alunos, salta, em 1929, para 159 escolas e 8.029 alunos. Repito: uma verdadeira revolução educacional. Era a colocação em prática do pensamento de August Comte, da construção de um nível superior de vida e de ascensão ao estado positivo através da educação, pensamento que perpassa o trabalhismo gaúcho, herdeiro histórico do positivismo castilhista.
Essas 159 escolas, com seus 8.029 alunos, exigiam professores qualificados. Por isso e para isso, no dia 3 de abril de 1929, aqui mesmo, a sede do Clube Pinheiro Machado, órgão do Partido Republicano Rio-Grandense, inaugurava-se a Escola Complementar, destinada à formação de normalistas. Representou um grande avanço em termos de qualidade para a educação passo-fundense. A partir daí, novas exigências foram surgindo, culminado com a criação de cursos superiores na área da educação.
A pequenina Escola Complementar transformou-se na Escola Norma Oswaldo Cruz, hoje Curso de Magistério da Escola Estadual de Educação Básica Nicolau de Araújo Vergueiro, a maior escola pública do município e da região.
A Academia Passo-Fundense de Letras sente-se honrada em lembrar os 80 anos da Escola Complementar e da EENAV. Aqui temos ex-alunos do Colégio Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro, como este orador e tantos outros, e diversos ex-professores. Neste prédio iniciou a formação de professores e, anos depois, o movimento para a criação da Universidade de Passo Fundo, culminando com dezenas de cursos superiores – inclusive de doutorado. Somos orgulhosos dessa contribuição. Por isso, professora Mônica Hoffmann, é que nos reunimos. Aceite nossos agradecimentos e nossas felicitações e os retransmita aos demais integrantes da comunidade escolar eenavista.
Comemoramos, hoje, o Dia Municipal do Escritor, instituído pela Le 3.764, de 2001, de autoria do então vereador Edson Nunes, membro da Academia Rio-Grandense de Medicina Veterinária. A Lei, instituindo a data de fundação da Academia Passo-Fundense de Letras como ponto de referência, comemoração e lembrança dos escritores da Capital Nacional da Literatura é um reconhecimento, público e oficial, deste sodalício.
Esta casa reuniu, reúne e continuará reunindo poetas, romancistas, contistas, cronistas, historiadores e todo o gênero de homens e mulheres dedicados à produção literária.
Desde seus primeiros dias, através de programas radiofônicos, colunas em jornais, publicações de livros e periódicos, a Academia Passo-Fundense de Letras é um campo fértil onde vicejam as letras locais, fertilidade que tem mais uma prova nesta noite, com o lançamento da edição nº. 6 da revista Água da Fonte, que desde o número zero, em dezembro de 2003 divulga autores, não apenas integrantes do sodalício.
Água da Fonte é um sonho sonhado junto. É um sonho de nosso confrade Gilberto Cunha, compartilhado com todos, desde o título, desde o formato, desde a capa, conforme registrado nos anais da academia. E porque foi um sonho sonhado junto concretizou-se, continuou e desperta a admiração, inclusive de consagrados escritores, como eu meso testemunhei junto a integrantes da Academia Brasileira de Letras.
A capa de Água da Fonte, sempre entregue a artista plástico passo-fundense, é uma demonstração do respeito, do reconhecimento e da consideração que os imortais de Passo Fundo têm pelas demais formas de arte. Respeito, reconhecimento e consideração pelas demais formas de arte é o que comprovamos, nesta noite, com a abertura da exposição da pintora Nil Marques, mineira que escolheu Passo Fundo para viver e trabalhar com seus filhos, a exemplo de tantos passo-fundenses adotivos que transformaram nossa terra em sua terra.
Esperamos que a exposição de Nil Marques sirva de exemplo de que os artistas são convergentes e não concorrentes como, nesta academia, demonstramos com iniciativas práticas.
Muito obrigado!
(Discurso pronunciado pelo acadêmico Paulo Monteiro, presidente da Academia Passo-Fundense de Letras, na sessão solene do sodalício realizada no dia 7 de abril de 2009)
poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos