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Re: Uma dor incómoda
Caro José Alberto
Seja-me permitido, para melhor ilustrar este comentário, que também me refira a mim próprio, sem que com isso pretenda induzir algum tipo de protagonismo. Já uma vez, e espero que mais vezes aconteçam, tive oportunidade de me encontrar, frente a frente, com o José Alberto, no decorrer do III Encontro do Luso Poemas. Convivemos com manifesta amizade e simpatia e outra coisa não era de esperar. Estou no Luso Poemas prioritariamente na qualidade de poeta, e só marginalmente me manifesto como contista, polemista ou comentarista. Nunca, até hoje, o fiz como cronista porque privilegio a poesia. Tão só. Sou um poeta menor, mas um poeta de ideias e sentimentos. Aqui já postei perto de 2000 textos sobre os mais variados temas, à média diária de dois poemas por dia. O poema “Uma dor de dentes”, que está na base desta salutar polémica, não foi escrito pensando especialmente em qualquer texto do José Alberto, muito embora todos os seus textos mereçam competente reflexão, mas sim nos diversos autores em que tenho percebido um certo acinte, sobranceria, e mesmo escárnio, para as questões da Fé. Muito embora tais atitudes possam não ser premeditadas ou devidamente reflectidas. Ora, eu sou assumidamente cristão e católico, muito embora grande pecador, pelo que nunca será de ânimo leve que verei cerceada a minha liberdade de pecar. Ou de me santificar! Também não me proponho, como nunca me propus, defender a Igreja de Roma, ou o Papa, nem ninguém me encomendou tal sermão. Mas sempre procuro que os meus poemas afins exaltam as figuras centrais da religiosidade, não só cristã. Já tive oportunidade de orar numa grande mesquita, e senti a mesma religiosidade de um qualquer templo cristão. Revejo-me plenamente na doutrina de Jesus Cristo e nos valores que dela emanam e esses sim, estou em crer, enformarão a Nova Civilização para a qual a Humanidade será resgatada. A força deles não reside, se é que algum dia residiu, nos exércitos que mobiliza, nos argumentos filosóficos, no poder da banca, nas bombas que rebentaram em Hiroshima ou continuam a estourar na Palestina. Têm força intrínseca. Jesus Cristo é hoje tão revolucionário como há 2000 anos! Para mim já é bem clara a separação entre religiosidade e espiritualidade. A História, entre nós, já separou Política de Religião e Ética de Religião. Lamentavelmente a Política parece nada respeitar. A Igreja Católica, que não necessariamente a de Roma, e o Papa é, à partida, o Bispo de Roma, continua a ter um papel decisivo por esse Mundo de Cristo fora. Na minha aldeia, quando enterra um defunto que não é abandonado como o animal que desumanamente continuamos a atirar para a lixeira, ou num qualquer lar africano aonde introduz um pouco de amor, pão e dignidade. Os Bórgias ou os Torquemadas não são a doutrina de Cristo. Lamentavelmente poderíamos descobrir, em si ou em mim, se a tanto nos ativéssemos, reflexos dessas tristes figuras. A doutrina de Cristo é dita e praticada pelos seus santos e tantos eles são. Isto tudo, dito de forma atabalhoada, porque o espaço é curto, pretende apenas ser só um convite para que continuemos a discutir este, e todos estes assuntos com abertura e mútuo respeito. E que nunca percamos o sentido do ridículo e do bom senso, como tantas vezes tem acontecido no Luso. E que aprendamos a distinguir quando estamos a discutir ideias, ou gostos ou mesmo afectos! São os afectos e os gostos que nos aproximam ou afastam e não as ideias. O que não quer dizer que também não riamos e choremos de alegria, sempre que for o caso.
Um abraço
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