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O desiderato dos homens

 
O DESIDERATO DOS HOMENS


Treme a terra!
Roncam em suas bases, as ávidas turbinas dos monstruosos mísseis teleguiados. Aceleram-se as pulsações nos corações dos homens. Sobre o ar paira a mais inexorável misantropia. Os olhares se confundem. O medo infiltra às raízes dos seres. As mãos trêmulas aguardam a voz do presidente e todos sabem: este é o advento do apocalipse.
Às avenidas das grandes metrópoles, começam a se transformar nos corredores da morte; enquanto sirenes ao longo dos ares ecoam sinistramente; que começa o estado de emergência. A pré-agonia já começa a nascer. Eclode o mais intenso e brutal desespero, todos querem fugir, pisoteiam-se uns aos outros, à procura de abrigos. As televisões apressam-se em dizer as últimas manobras dos maiores contigentes militares da face da Terra, que já se mobilizam e se preparam, para começarem as recíprocas destruições.
Que loucuras teratológicas, que medo feral, é o que sente no momento, todos aqueles que contribuíram para o evento final, onde verão suas próprias destruições, a de seus filhos e de seus lares. É o arrependimento mostrando-se presente no amargo instante. Mas nada adiantará. A voz do presidente é ouvida, e num reflexo incontido começa-se a execução do processo de extermínio.
Brotam-se do solo fértil, pelas grandes escotilhas que se abrem e num ronco estarrecedor saem irreversivelmente os megatons da morte, em sua trajetória flamejante. Corta o azul cristalino do céu, levando em sua carcaça a potência inexaurível que exterminará um povo. Enquanto que dezenas e centenas de novos mísseis continuam a brotar do solo, em suas rotas cruéis e certeiras.
E o primeiro cogumelo atômico se abre em toda sua resplandecência mortífera. Cruzam-se os olhares do pavor, pensando serem todos irmãos e na agonia da morte, ouve-se ainda o grito da dor.
É silêncio, é fumaça e nada se ouve, pois o homem conseguiu o seu desiderato.
E na silente hora do fim, brada na amplidão uma voz triste e serena:
Criei pra você o ar e você o poluiu.
Criei pra você o mar e você o putrefou.
Criei pra você a vida e você a rejeitou.
E com a inteligência que lhe dei, você se matou.



 
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