Prosas Poéticas : 

Dias Desenho

 
Gosto dos dias quando eles começam.
Gosto de manhãs frias.
Gosto das tardes sonolentas quando me deixo dormir pelo dia adentro…
Gosto quando eles não prometem nada. Quando são uma página em branco à espera que eu escreva nela alguma coisa.
Às vezes escrevo, às vezes não.
Às vezes desenho. Às vezes rasgo-a.
Só não gosto dos dias que já são páginas de agenda.
E de quando prometem muitas coisas.
Gosto de acordar desenho. Os lençóis são as folhas brancas. Eu sou a cor.
Mas também não me importo que os dias sejam cinzentos. Que eu não seja cor.
Gosto quando sou cinzento e chove lá fora.
E cá dentro…
Já dizia O poeta. Pensar incomoda como andar à chuva, quando o vento cresce e parece que chove mais.
Mas eu às vezes gosto de andar à chuva.
Só não gosto do vento. Por isso penso menos.
Não penso no vento. O vento é caos. O vento é o turbilhão dos dias de agenda.
Sento-me lá fora a olhar cá para dentro e penso de chuva. A chuva é o sangue que corre por mim.
A chuva diz que está vento. Mas eu não quero saber disso.
A chuva diz que está frio. A chuva fria é a que se sente mais.
A chuva diz que ninguém quer a minha saudade e a minha melancolia. E eu sei que ninguém partilharia a chuva comigo.
A chuva diz que amanhã estará tempo seco. E eu não pensarei em nada.
Amanhã já não chove. O sangue já não corre.
Mesmo assim o dia será desenho.
E eu vou escrever coisas bonitas pelo dia.
Apenas para mim. Para o dia. E para mais ninguém.


Emanuel Madalena

 
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EmanuelMadalena
 
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