Ia o triste negrinho, sujo cansado e tristonho, pedir ao Sr. Dos Perdões a graça de menos trabalho que o corpo embora novo, já estava alquebrado de tanto chicote do mestre da fazenda. Chegado á igreja deixou-se envolver no silêncio sepulcral que dentro se fazia sentir, olhou os castiçais ricamente ornamentados em prata, encimados por velas reluzentes da mais fina cera, os bancos corridos em madeira de pau santo, os altares aos santos no mais refulgente mármore. O negrinho de fraca figura e triste condição estava assoberbado perante tanto fausto e riqueza. Ajoelhou-se em frente ao altar, aos pés da cruz e na sua humilde ladainha pediu a graça desejada, eis que então ouviu um som:
- pssst – ressoou na abóbada de cristal. O negrinho olhou em todas as direcções e não via ninguém.
- pssst – ouviu-se de novo. O negrinho já estava a começar a ficar assustado quando ouve:
- Aqui em cima, na cruz… – O negrinho levantou-se de um pulo e olhou para a imagem falante pregada na cruz:
- Mas… Tu falas, Senhor? – Perguntou-lhe o negrinho
- Claro que falo meu filho…queres-me fazer um favor? – Perguntou-lhe o Sr. pregado na cruz.
- Mas é claro que faço… – respondeu o negrinho.
- Vais à sacristia e está lá um martelo de orelhas, traz-mo aqui. – O negrinho apressou-se a cumprir o desejo do Sr. e correu de volta com o martelo nas mãos:
- E agora Sr? Perguntou-lhe o humilde negrinho.
- Vês esse cravo espetado nos meus pés? Retira-mo por favor com as orelhas do martelo. – O negrinho assim fez. Retirado o cravo o Sr. espetado na cruz mexe os pés e com um deles começa a empurrar o negrinho para trás com alguma insistência:
- Mas… o que quereis agora, Senhor? – Pergunta o surpreendido negrinho.
Continuando com o pé a empurrar o negrinho, o senhor respondeu-lhe.
- Xô, Xô… não quero pretos na minha igreja…