O poeta versa a dor
O amor, a paixão
O rancor, ilusão
O perdão e o ciúme
Versa o sol e as estrelas
A beleza, a riqueza
O brilho, o fauno, o lume
Sabe a tudo lisonjear
Mas se nega a festejar
A flor nascida do estrume.
As fagulhas, não as trevas
São do poeta preferidas
Escrever as bonomias
As quais lhe são auferidas
Não descreve a podridão
Nem putas, nem raparigas
Também o lixo das orlas
São de todos esquecidas.
Não se atém o literarto
À tristeza e ao lamento
P ra ele não há beleza
Não vê que há sutileza
Que há poesia no excremento.
O mais dulce paladar
Não permite que o azedume
O qual faz-se relembrar
Do corte, da ponta e do gume
São peripécias do verso
E esquecem que há poesia
Na flor brotada no estrume.
Versa a beleza da flor
Com sua doçura e perfume
Se é desagradável o odor
Com limpeza ou com cerume
Se não é doce o olor
Nenhuma criatura assume
Sequer se atrevem a versar
O excremento, o estrume.
JOEL DE SÁ
SP, 06/04/2009.